quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Parto meu - Relato de parto domiciliar da Lena

relato parto

Acho que parto precisa ser planejado, sonhado, querido, imaginado, pensado, alongado e feito. E é exatamente isso que eu estou tentando fazer dessa vez. Acho que quando a gente é mãe de primeira viagem, muitas vezes damos a mesma importância pro nascimento do que para o enxoval, por exemplo, e acho que está na hora das mulheres modernas saberem quais são suas escolhas, o que é melhor pra elas e pro bebê, e que existem profissionais que vão te levar a isso, bem poucos, mas, ainda bem, eles existem. Portanto, se você quer ter um parto humanizado no Brasil, precisa primeiro fazer uma poupança para arcar com os custos de realizar seu desejo (assim como você juntou dinheiro para montar uma casa, uma festa de casamento e/ou a festa do seu filho de 1 ano), depois precisa escolher profissionais humanizados, que não são apenas médicos, mas cuidadores e que não tratam a gravidez como doença, mas um processo fisiológico.

A maternidade pegou a Bebel Hamu de surpresa, mas nem por isso ela deixou que as coisas acontecessem da mesma forma. Depois de visitar diversos médicos, não encontrar nenhum obstetra que fizesse parto normal pelo plano de saúde, ela finalmente encontrou uma obstetra humanizada. No final da gravidez, depois de muita pesquisa, eles se decidiram pelo parto domiciliar. Para continuar a nossa série sobre relatos de partos normais, das mais diversas formas, um relato verdadeiro de uma mulher moderna que tinha um sonho de parto e conseguiu realizá-lo da melhor forma possível, sem medo, com apoio e seu bebê nos braços. Lena nasceu no dia 17/06/2013

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Sempre sonhei em ter um parto normal e natural. Minha definição do trabalho de parto ideal seria “um dia na minha vida”. Claro que eu tinha plena consciência que seria o dia mais incrível e emocionante, mas ao mesmo tempo eu queria que fosse um dia normal, sem estresse, sem medos.

Minha gravidez não foi planejada. Eu estava trabalhando muito, iniciando um novo negócio e até tinha acabado de marcar o casamento com meu marido, mesmo morando juntos há 4 anos. Só descobri que estava grávida com 8 1/2 semanas, e no dia seguinte já estava na emergência do hospital com um sangramento. Eu tive um hematoma que demorou 6 semanas, vários respousos e uns hormônios para sarar. Passado isso, não tive mais nada grave e a gravidez seguiu normalmente.

Eu já estava com 14 semanas quando fui procurar uma médica para fazer meu pré-natal. No meu plano de saúde só encontrei médicas com as quais eu não me identifiquei, muito acostumadas a fazer cesárea e com uma conversa meio ensaiada. Consegui fazer todos os exames nas datas corretas mas não segui com nenhuma das 4 médicas que visitei. Conheci a Dra. Rachel Reis por indicação de uma cliente e logo nos apaixonamos por ela e por sua forma de trabalhar. Super atenciosa, acredita que o mais natural é o parto normal, é honesta com o seus princípios, respeita a gestante e o bebê não fazendo nenhum intervenção desnecessária.

Estava decidido que o parto seria com ela, mas só na segunda e última consulta que meu marido se decidiu também pelo parto domiciliar. Eu já estava com 35 semanas! Ela indicou uma doula e uma enfermeira que fariam parte da equipe. Elas todas vieram visitar nossa casa quando eu estava com 37 semanas.

Foi em uma segunda feira, com quase 40 semanas, às 8h da manhã comecei a sentir as contrações, mesmo sem saber que eram contrações. Achei que a Lena estava mexendo de um jeito estranho, eu só tinha sentido isso uma única vez dois dias antes. Como minha mãe estava me visitando falei pro meu marido, Hugo, que ele podia ir trabalhar tranquilo, achei que não deveria ser nada, mas que se fosse eu avisaria logo. Lá pelas 10h, liguei para a doula pedindo ajuda para marcar o tempo das contrações, ela me explicou direitinho, mas não consegui marcar corretamente. Era nítido que estava regular e o tempo não estava espaçando, isso foi o suficiente para ela vir para minha casa. Liguei também para o meu marido voltar. Eles chegaram quase juntos, pouco antes das 12h.

A Érica (doula) confirmou que as contrações estavam regulares e me liberou para um banho bem relaxante e refrescante. Depois do banho comi um pouco de macarrão e tomei um suco. As contrações ficavam cada vez mais fortes, mas as dores ainda não eram muito intensas.  

A enfermeira e a obstetra chegaram às 14h, eu estava com 6cm de dilatação. Quando começou a doer mais, elas me sugeriram que eu fosse tomar um banho quente e ficar na banheira tentando relaxar.

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Por todo esse tempo ficamos eu e meu marido juntos. Sempre ia alguém confirmar se estava tudo bem, mas elas ficavam fora só ouvindo e aguardando. Foi muito especial poder ficar só nós dois, não tinha mais nada para fazer, só esperar e sentir, e a companhia dele era a mais agradável que eu podia ter.

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Eu ainda ficava pensando “será que vai nascer hoje?”. Claro que iria, mas não deixava de ser uma surpresa pra mim tudo o que ainda estava por vir. Já havia perdido a noção de quanto tempo tinha passado, saí da banheira e fomos para a sala, a doula ficou me fazendo massagem com um óleo quentinho.

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Fiquei pendurada na rede e depois já sentei na banqueta. A obstetra conferiu os 10 cm de dilatação e a partir deste momento todas se posicionaram e começaram a me orientar em como e o que fazer. A Érica, doula, ficou atrás me dando apoio com o Hugo e a Rachel na minha frente, narrando os acontecimentos e quando eu precisei segurando minha mão para ajudar na força de expulsão final. E a Melissa, enfermeira, ora ficava de lado, ora na frente.

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Eu não havia me preparado tecnicamente para o parto. Não fiz aulas de nada, não li nenhum blog, só alguns livros. Tive medo de saber demais. Queria ter minha experiência própria, sem ficar imaginando como poderia ser maravilhoso, ou o que poderia dar errado. Meu único preparo foi confiar na equipe, estar tranquila e sem medo e ter o Hugo próximo.

Estava sentindo muito calor e sono! Eu queria dormir, mas ela estava nascendo. Os esforços finais foram pra mim como um transe. Eu não conseguia ver direito (também eu sou míope e estava sem óculos), os sons pareciam abafados e parecia que todo o meu corpo estava parindo. Agora sim estava intenso, a bolsa estourou, ela coroou e mais umas 3 contrações foram o suficiente para ela nascer.  Eram 17:07.

A Dra. Rachel desenrolou o cordão do pescoço e o Hugo pegou ela. Assim que ela saiu foi como se eu tivesse recebido uma carga de energia, todo o sono passou e eu fiquei em um estado de êxtase e alerta. A Lena veio para o meu colo imediatamente, o Hugo sentou atrás de mim, nos abraçou e ficamos os três juntos por um tempo, não acreditando.

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Sem planejamos nada, neste momento, tocou a música certa (Daugther, do John Mayer) e foi o maior chororô. Colocaram uma touquinha na Lena e ela estava ernolada em umas fraldas. Depois que o cordão parou de pulsar o Hugo o cortou e nós fomos para a cama.

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Por poucos minutos levaram a Lena até a sala de novo só para pesar. Ela voltou, vestiu uma roupinha e voltou para o meu peito. Minha placenta estava solta e a Rachel fez uma massagem na barriga para ela sair, doeu um pouco, e eu já não queria sentir nenhuma dorzinha mais.

A única coisa que quisemos foi a injeção de vitamina K, que previne hemorragia do bebê. Ela nem sentiu. Do mesmo jeito que estava dormindo continuou. Não teve nenhuma outra interferência, nem banho. Ela fez xixi algumas horas depois e logo em seguida cocô. A respiração fazia um barulhinho que foi desaparecendo com o tempo, ela engoliu o que estava obstruindo. Ela teria seguramente até 72 h para mamar, mas 24 h depois mamou por 40 min. Não havia nada com o que se preocupar.

Saldo do parto para mim: uma laceração superficial que não precisou de suturar. Um desmaio quando fui tomar banho e uns dias sem conseguir sentar direito. Quinze dias depois estava 85%, 20 dias 100%. Tomei paracetamol por 3 dias após o parto e quando senti muita dor de cabeça.

O mais legal foi, ao invés de registrar a saída da maternidade, fotografar a primeira saída de casa para visitar o pediatra. Naquele momento me dei conta de que a história da Lena seria diferente.


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As lindas fotos do parto da Lena foram tiradas pela Juliana Matos. Quem quiser saber os contatos dos profissionais que acompanharam a Bebel, mande um email pra mim que eu passo com maior prazer ;)

8 comentários:

  1. que nascimento lindo! bebéia super fofa e fotos maravilhosas.

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  2. Emocionante. Lindo de viver. Pode dizer os contatos dos profissionais envolvidos?

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  3. Belo relato, tati!! Os profissionais sao de brasilia? Bjos

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  4. Sempre fico muito emocionada com o parto em casa. Tenho pensado nessa possibilidade quando for minha vez. Lindo mesmo, parabéns a família!

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  5. Lindo relato! Acho uma sábia decisão ler um pouco menos e deixar as coisas fluirem de forma mais natural. Eu li demais, estudei demais, criei expectativas demais! Deu tudo certo, tive um parto excelente, mas queria ter ficado mais relaxada! :) Tati

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  6. Um relato de parto emocionante! Beijinhos

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  7. Emocionante! Você sabe me dizer quanto ela cobra e se ainda atende? Eu queria um parto natural humanizado, mas queria hospitalar, daí é difícil encontrar médicos humanizados pelo plano de saúde, ainda mais que façam parto natural! Eu queria ter uma idéia do preço que ela cobra, vc saberia me dizer? Eu queria ter uma idéia do preço pra ver se consigo pagar, ou se seria melhor eu me conformar com um médico do meu plano...

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