terça-feira, 23 de setembro de 2014

Sobre escolhas, ser mãe, ficar em casa, trabalhar, empreender

Dia desses qualquer saímos para passear debaixo do prédio com as meninas e o Francisco. Fomos andando,eu e o Marco, e conversando com as duas, visitamos as corujas, que sempre estão na mesma árvore, e fomos no "museu", um cinema que fica aqui perto de casa (Cine Brasília para os brasilienses) onde elas correm, sentam na poltrona, olham os cartazes e vão no banheiro. Estamos indo lá quase todos os dias e elas fazem a mesma coisa. Me sentei um pouco e olhei pras duas correndo de um lado pro outro, Francisco no carrinho e dei um suspiro daqueles de satisfação total. Me lembrei de tantos passeios que eu fiz com as meninas, da nossa rotina de só nós três e senti falta, mas também me senti leve. Tanta coisa a gente passou para chegar até aqui e agora mais uma vez passamos por mudanças.

IMG_9204

Fiquei bem pensativa durante o nosso passeio e veio na minha mente, tantas outras aventuras com a Mamá e a Bella. As manhãs no parquinho, as andanças no nosso carrinho duplo, as conversas com desconhecidos que adoram perguntas sobre gêmeos, as brincadeiras debaixo do bloco, os desenhos, os brinquedos em casa, colocar as duas pra dormir depois do almoço, os banhos inesperados nas tardes de secura com direito a piscina no boxe. Tanta coisa. É claro que era difícil, é claro que existiram dias em que eu me trancava no banheiro e chorava um pouquinho e quando chegava o fim de tarde eu contava os minutos pro marido chegar em casa. Mas como era bom! E eu posso dizer que aproveitei muito. Muito mesmo.

Ter ficado em casa com as meninas nos primeiros anos de vida delas foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Não acho que tenha sido bom pra elas só, mas, especialmente, pra mim também. Tenho as melhores lembranças e memórias, e o melhor, continuo tendo. Não é uma decisão fácil, muita gente me escreve perguntando sobre isso porque realmente é complicado largar tudo e ficar em casa para ser apenas mãe e dona de casa. Só posso dizer que é uma decisão muito pessoal, que é preciso ter o apoio do marido, abrir mão de certas coisas (aqui vendemos um carro, por exemplo, e cortamos alguns luxos), apertar outras, se adequar. E tudo o que eu posso dizer é que vale muito a pena. Muito mesmo.

IMG_9209

Agora, em um momento que eu volto a trabalhar, ainda que seja de casa, vejo o quanto é difícil conciliar as duas coisas, mas não impossível. Para quem não sabe, estou fazendo bolos! Acabei de abrir um foodtruck, a Komboleria, com meu irmão e estou fazendo bolos para vender na kombi e por encomenda. Apenas receitas que eu fazia para as meninas, tudo feito com açúcar demerara e o mesmo amor. E grande parte das receitas são sem lactose (algumas inclusive já foram publicadas aqui). Então, mesmo com o Francisco pequeno, estou trabalhando. E está sendo bem difícil pra mim conciliar tudo. Na verdade, nas últimas semanas me deparei com vários dilemas, queria dar conta de tudo e não dou. Não é?

Quando comecei a fazer os bolos, minha única "exigência" é que eu queria fazer isso de casa e que as crianças estejam sempre por perto. Muitas vezes não consigo fazer as coisas com elas no meio de tudo, é verdade. Quase sempre é caótico e tenho ficado exausta, essa é a verdade. Em dias que temos evento, elas vão pra casa dos avós, por exemplo. Se fica muito caótico, o marido (que de manhã está em casa) desce sozinho com elas. Além disso, dei o braço a torcer e contratei uma empregada para me ajudar com a casa, porque não sou super mulher e não dou conta de tudo. Aprendi ser mãe e empreendedora é preciso ter apoio ou criar uma rede de ajuda, um esquema, um back-up. No meio do trabalho todo, de tempo em tempo, paro para amamentar o Francisco, que está grudado comigo. Ainda estou tentando achar equilíbrio nisso também. Tento não trabalhar de manhã quando elas estão em casa, só à tarde quando elas estão na escola ou depois que todo mundo já dormiu.

Ainda fazendo tudo de casa e estando perto, às vezes também me questiono: o que eu tô fazendo? Não era melhor deixar como estar e ficar só com as crianças? Quero ficar com elas, mas ao mesmo tempo não dou conta de tudo e muitas vezes meu trabalho sai prejudicado. Ainda estou tentando trilhar esse caminho de mãe empreendedora, na verdade. Também tenho meus sonhos e desejos, como morar em uma casa, por exemplo, nosso próximo objetivo. Por isso, estou tentando o equilíbrio, minha gente, como sempre. E estar bem com suas decisões, seja ela ter um filho só ou três, trabalhar fora ou ficar em casa, amamentar ou complementar. Ter segurança no que você quer, ainda que haja dúvida (e sempre haverá), seguir seu coração.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Não existe cólica

Untitled


Outro dia encontrei essa foto minha na casa da minha mãe. Meus olhos se encheram de lágrimas, sem mesmo saber por quê. Aquele sorriso de contentamento misturado com os olhos cansados. Não sei. Me deu vontade de voltar no tempo e me dar um abraço e dizer: aproveita agora que essa confusão toda e esse cansaço vão passar. Então, me inspirei e resolvi escrever um post que há tempos está na minha cabeça mas estava sem coragem de escrever ou compartilhar. Um post para as mães de recém-nascidos, especialmente as de primeira-viagem sobre o que essa loucura toda que é a maternidade me ensinou. Um post que talvez aquela Tatiana da foto, totalmente perdida pelo fato de ter duas bebês de poucos meses nos braços não fosse acreditar se lesse. Por isso, aí vai, queridas mães, antes de tudo, acredite:

Não existe cólica. Não existe cólica. Não existe cólica.

É isso mesmo que você leu. Não existe cólica. Seu bebê chora porque ele quer peito, mesmo que ele tenha acabado de mamar. Não é fome, é peito. É aconchego, é carinho, é colo. Não existe cólica. Sim, pode ser algum desconforto, é bem mais provável que seja sono, mas não é cólica. Ele quer seu colo, seu aconchego, apenas isso. Esqueça o cansaço, esqueça todas aquelas vozes que dizem ele vai se "acostumar mal no colo", "que não pode dormir com a boca no peito". É justamente o oposto disso. Não se preocupe que ele vai dormir sozinho um dia e você vai sentir falta quando ele não quiser mais dormir no peito.

Não existe cólica. A verdade é que o bebê, como qualquer bebê, chora, pede por afago e conforto. E estamos tão socialmente ligados na coisa da cólica, "de que todo bebê até 3 meses de idade sofre com elas", que sequer cogitamos qualquer outro diagnóstico que não seja este. Faça um teste. Se o seu bebê mamou e começou a chorar. A sua mãe, avó, tia, amiga, desconhecida, vai dize: "tadinho, tá incomodado. Deve ser cólica". Ou sempre vai ter alguém que te pergunta: "ele não tá tendo cólica, não?".

Com as meninas, eu achei que o choro delas era cólica. Mas não era. Era sono, provavelmente. Era vontade de ficar perto de mim, mas eu estava muito ocupada tentando entender o que elas tinham, por que elas choravam. por que elas mamavam tanto e meu leite parecia não ser suficiente. Queria ter me libertado de todas aquelas frases e conceitos de que "não é fome, não é possível". Não era mesmo, mas elas queria o peito. Só isso. Com o Francisco, consegui me libertar. Dei peito e todo colo que eu achava suficiente. E como foi bom. Eu estava tranquilo, meu bebê tranquilo. Em algum momento, é claro, eu também fiquei cansada, era o tempo todo no peito. E até eu, que tinha certeza absoluta, de que não era cólica, comecei a duvidar. Então, entrei na internet e fui buscar rápido um texto do Carlos González que acalmou meu coração.

Acredite. Não existe cólica. Uma vez que a gente se desapega do tal dos gases, se acalma e oferece o que o bebê realmente quer. Mamou durante uma hora e depois chorou? Então, ainda pode dar mais um peito. Ou ninar. Mamou, ninou, mamou, ninou e nada? Dá um banho e mais peito. Confie nos seus instintos. Seu bebê só precisa de uma coisa nos primeiros meses de vida: você. Tá cansada, quer tomar um banho, comer? Desapega. Dá o bebê pro marido, pra mãe, pra sogra, descansa um pouco. E depois mais peito. Durma com ele no colo, coma com ele no colo. Entregue-se. Seu bebê só vai passar por isso uma vez. Seu corpo ainda está se adaptando ao fato de você não dormir muito, mas acredite, uma dia o cansaço vai passar. Por isso, Tatiana da foto, pegue as duas no colo muito, dê peito, chore, acredite em você mesma e no seu leite. Porque no fim, tudo vai passar. Só o amor e as boas lembranças é que ficam.