Em tempos em que a Agência Nacional de Saúde volta atrás e
decide que o parto é uma escolha da mulher. Em tempos quando o que a gente mais
vê no Facebook é a frase “meu corpo, minhas escolhas”. Nesses tempos, eu digo:
comi minha placenta. Tá, comi é um termo muito forte. Mas ela passou por um
processo de secagem, virou cápsula e eu ingeri quase todas, exceto cinco delas
que ainda estão no meu congelador.
Ingerir a placenta depois do parto é uma prática milenar,
muito usada pela medicina chinesa e pela Kim Kardashian West e outras famosas,
olha só que moderno. Por isso, pode começar a parar de achar que isso é nojento
ou coisa de hippie. Entre os benefícios da chamada medicina da placenta
estariam a diminuição do
sangramento pós-parto, ajudar o útero a voltar a seu tamanho normal, enriquecer
a produção de leite, prevenir a depressão pós-parto, além de ser uma alta fonte
de ferro. Mas, sejamos sinceros, não há nenhum estudo científico
finalizado sobre o assunto, apenas em processo. No entanto, eu escolhi comer
minha placenta sim, porque ela é minha e eu posso me beneficiar de algo meu.
Afinal, você sabe o que aconteceu com a sua no fim do
nascimento do seu filho/filha? Me lembro bem do meu médico dizendo para a enfermeira
no hospital durante a cesárea do Francisco (para quem não sabe foi um parto
domiciliar que terminou com transferência), “a paciente quer levar a placenta
para casa” e um silêncio pairar sobre a sala. Depois, o próprio médico me disse
que adorava ver a cara de pânico da equipe quando ele dizia isso.
Escolher consumir a placenta, no entanto, vai muito mais
além desses possíveis benefícios. Para mim, foi uma questão de entrar em
contato com o meu corpo. Por isso, a escolha de um parto normal ou cesárea é
tão importante. Fazer as coisas de forma natural, mesmo que elas acabem com
intervenção, como foi no meu caso, é uma oportunidade de entrar em contato com
seu físico, sua capacidade de concepção, de nutrir e de gerar um ser. Ter
sentido as dores do parto me fez sentir mais mulher, ter uma consciência do meu
corpo que eu sequer imaginava. E a placenta faz parte disso. Por que jogá-la
fora ou enterrar em algum lugar?
Eu tive um excelente pós-parto e acho que as cápsulas de
placenta ajudaram no processo. Tive muita energia para cuidar de três e me
sentia super disposta. Outra coisa que acho que influenciou foi na produção do
leite. Tive muito leite, tanto que em um determinado momento, diminuí meu
consumo das cápsulas porque estava tendo problemas e deu certo. Hoje em dia,
sempre que eu pego um resfriado ou estou me sentindo desanimada, vou lá no
congelador e tomo uma.
Agora faltam apenas cinco cápsulas e me sinto despedindo de
uma fase. Assim como outro dia me senti estranha em relação ao fato de ter
menstruado depois de quase dois anos. Vamos encerrar mais um ciclo para começar
outro. E sim, faria tudo de novo.