Eu era a pessoa mais empolgada do mundo para fazer o
desfralde de duas crianças. Era uma coisa linda, me livrar das fraldas,
independência, imagina a economia! Por isso, era uma questão de necessidade
também porque eu me pegava pensando como seria trocar fralda de três crianças
ao mesmo tempo, já que tudo começou quando eu estava grávida do Francisco.
Tentei duas vezes durante a gravidez e não deu certo. Na primeira vez, achei que
elas não estavam prontas e quando elas deram um sinal mais efetivo eu já estava
com mais de 30 semanas e era difícil ficar limpando xixi no chão e abaixando
para tirar e colocar calcinha, vamos combinar.
Depois que elas entraram na escola, a Maria deu alguns
sinais e resolvemos tirar a fralda. A Bella acabou indo no embalo, ela não deu
sinal algum, aliás. Aconteceram vários acidentes, muitos mesmo. Quase todos os
dias xixi na calcinha e nada de cocô no vaso. Ou era na calcinha ou acabava na
fralda. Foram meses nessa, e conversa com a professora, e coloca fralda de novo
ou não, tira de vez e vamos ver, vaso, penico, vaso, grama, penico, chão.
Quando a gente saia, colocava fralda e acho que isso só dificultou o processo.
Tudo o que eu lembro é que foi longo. Durou quase um ano.
Tempos depois, como quase sempre acontece aqui em casa, as meninas
mudaram de posição. A Bella simplesmente desfraldou total e a Maria fazia xixi
direito no vaso, mas cocô era sempre na calcinha. Ela não queria fralda. Ela
simplesmente fazia cocô e não pedia e nem avisava depois. A gente só via aquele
bolo na calça ou na calcinha, eventualmente, ou sentia o cheiro. Foram, no
mínimo, seis meses limpando cocô na calcinha. Sem contar as inúmeras aventuras
que passamos quando isso acontecia em lugares públicos.

Além, obviamente, do trabalho de cuidar, limpar e tentar
ensinar que cocô era no vaso e etc, ainda tinha o desgaste emocional. Tentamos
de tudo, a gente conversou, brigou, perdeu a paciência, criou estratégias,
tentou adivinhar as expressões dela para antecipar o ocorrido, leu livros,
conversou, conversou, conversou. Pensei até em fazer um sistema de premiação,
algo que sou totalmente contra, mas fiquei com medo de ser fisiológico e ela
ficar ainda mais frustrada porque não tinha ganhado uma estrelinha no quadro.
Eu sempre me questionando o que eu estava fazendo de errado?
Me sentindo fracassada em ensinar algo tão simples pra minha filha. Por que?
Quando eu conversava com alguém sobre o assunto sempre vinha aquela pergunta: “mas
será que ela não precisa um pouco mais de atenção?”. E aquilo, no fundo, doía em
mim. Como assim falta de atenção? Eu que estou sempre presente, fico em casa
com eles, estou totalmente dedicada à maternidade, ainda sim falta atenção?
Bem, podia ser que sim. Eu estava totalmente perdida nessa.
Até que eu resolvi parar de ficar obsessiva com aquilo.
Tinha que limpar cocô na calcinha todo dia. Tudo bem. Bora limpar. A gente
passou a ver isso como um processo e não como um problema. Uma hora ela ia
aprender. Tivemos uma conversa com a psicóloga da escola que abriu meus olhos também
e me deu um porquê, que aquele era o tempo dela, que era uma forma dela ainda
ser bebê, e que aquela podia ser uma reação tardia ao nascimento do irmão.
Então, um belo dia, ela começou a fazer cocô no vaso. Foi assim,
foi lá e começou a fazer. Tão simples e tão complicado ao mesmo tempo. Mas não
são assim todas as coisas que passamos com a maternidade? Teríamos feito alguma
coisa diferente? Ou será que foi deixar de rotular e focar no problema para ele
ser resolvido? Eu e o Marco nos entreolhamos depois de muito debater sobre o
assunto e demos de ombros. Seria mais uma daquelas coisas sem explicação que
acontece quando nos tornamos pais. Foi tal coisa ou tal coisa? Não sabemos, mas
aprendemos com eles que as coisas se resolvem e que a vida acontece, nos resta guiá-los
pelo caminho, sabendo que de vez em quando vamos cambalear, voltar atrás,
tentar de novo, e torcer sempre pelo melhor. E entender que nem tudo precisa de
explicação, motivo, causa e efeito, mas que existe o viver.

Ah, sim e a minha conclusão do desfralde é o seguinte: eu
acho que fiz tudo errado, número um. Segundo: não force, quando a criança
estiver pronta, ela vai estar pronta.