Cada mulher tem uma expectativa, um desejo, um sonho para o seu parto. Bem, às vezes, esses sentimentos passam desapercebidos, se confundem, mas eles estão ali. Ainda que com o medo e a ansiedade, vem a esperança de um nascimento único e pleno, mesmo sem a gente saber o que isso quer dizer. Pelo menos daqui do outro lado do computador, eu não me canso de aprender e pesquisar cada vez mais sobre isso.
Hoje resolvi compartilhar a história da Carol Lobo. Ela fez uma cesária na primeira gravidez e se sentiu satisfeita com sua decisão. Mas depois de um tempo, ela começou a ver as coisas de outra forma, a maternidade tem muito disso. E na segunda gestação, ela conseguiu colocar em prática a ideia de um parto natural e ainda domiciliar. É um relato e tanto! Me emocionei com a força de vontade e o depoimento da Carol. Aí vai:
Meu renascimento como mulher: relato de parto
Confesso: a minha segunda gravidez, da Rafaela, não foi programada. Ela aconteceu! Diferente da gravidez da irmã, que foi super planejada, esperada. Porém, na gravidez da Maria Luisa (primeira vez), procurei mais informações a respeito da maternagem do que da via de nascimento. Pra mim, aquela época, o modo como o bebê nascia não importava, e sim se ele estaria saudável. Mas, na verdade, eu nunca havia me importado com o nascimento. Se ela viesse de parto natural ou cesárea, pouco importava. Apesar disso, eu estava “me preparando” para um parto normal...
Carol e suas meninas
Pelo menos eu achava que sim, pois estava fazendo yoga, conversava com algumas militantes do parto normal, mas nada além disso. Chegando perto da data provável do parto, 37 semanas para ser exata, fiz uma ultrasom de rotina e lá estava uma circular. Juntou a falta de informação, a ansiedade de ver a minha filha tão esperada com um médico cesarista, resultado: cesárea marcada para a semana
seguinte. E a fiz com muita paz no coração. Malú nasceu bem, apgar 9/9, ficou comigo desde a sala de recuperação. E isso pra mim tinha sido o bastante. Minha filha nasceu saudável, não teve nenhum desconforto, logo mamou e minha recuperação fora ótima. Pronto, estava satisfeita! E nunca mais toquei no assunto.
Com a Malu depois do nascimento
Cesária na primeira gravidez
Até o dia de rever o DVD do nascimento. A essa altura eu já estava grávida da Rafaela, e Maria Luisa pediu para ver. Meu coração ficou em pedacinhos... Ver minha filha sendo tirada de mim, dando uma passadinha rápida para “me conhecer”, pois eu estava amarrada e não pude nem tocá-la, depois vê-la sendo submetida a milhares de intervenções, ali sozinha, chorando,peladinha, sem nenhum conforto... Isso me matou por dentro. E foi neste momento que eu decidi que com a Rafaela seria diferente.
E dei graças à internet!!! Procurei me informar o máximo possível sobre o parto humanizado. Era o que eu queria para o nascimento da minha filha, um parto respeitando o momento da passagem da vida intra-uterina para esse mundo, que já
é hostil por si só! E nessa procura incessante, achei bem mais informações do que eu estava à procura. E aprendi que a via de nascimento importa SIM! E nisso foram 7 meses de muito estudo, preparação do corpo e da mente para que minha filha chegasse da melhor maneira que eu poderia proporcionar.
Eu decidi por um parto domiciliar. Não tive apoio inicial de ninguém, nem do meu marido. Mas, nem por isso, titubeei. Era isso que eu queria, era o parto
que eu teria! Procurei um GO que topasse, uma doula-fisioterapeuta que me
ajudasse no preparo físico-metal e fiz exercícios físicos até a semana anterior ao parto.
O parto:
Umas das coisas que eu tinha que ter muito bem exercitado era o controle da minha ansiedade. E por incrível que pareça, ela estava controlada. Eu estava de 39 semanas e só esperava a Rafaela para a semana seguinte, acreditando na mudança para a lua-cheia. Porém, como nem tudo na vida é programável, e o parto é uma dessas coisas. Na madrugada de quarta-feira, 26/08, eu comecei a sentir contrações com cólicas. Que felicidade!!! Como eu esperei por esse momento.
Eram 2h, e CLARO, eu comecei a cronometrar (tá, a ansiedade não estava tão controlada assim, hihi), elas vinham com intervalo de 7 min. Apesar de elas serem bem desconfortáveis, eu estava feliz da vida!!! Saí do quarto e fui curtir esse momento, que achei que seria curto....... Acordei o maridão às 6h, disse a ele que estava com contrações desde as 2h e achei que podíamos ligar para o GO. E assim fizemos.Dr. Fred pediu que fossemos ao consultório para ele fazer a avaliação. Fomos e no carro as contrações chegaram a vir com intervalos de 5 min, oba!! Horrível contração no carro, mas tudo vale à pena! Chegando ao consultório, toque: 2 cm!!! Como assim, madrugada inteira de contrações regulares, e só isso????? Voltei pra casa meio decepcionada, e as contrações se espaçaram... Ora vinham de 10 em 10, ora de 7 em 7, nunca regularizavam.
Pronto, não estava em trabalho de parto ativo, ainda era o latente. Bem, vamos curtir! Passei o dia em casa, tendo as contrações desconfortáveis. A doula veio e viu que realmente se tratava de TP latente. Então, vamos dormir, concentrar, pedir pelas contrações para ver se elas engatam. E foi mais uma madrugada de contrações com longos intervalos, mas que me impediam de dormir.
Eu estava cansada... Na quinta, 27/08, o Dr. Fred veio à minha casa para nova avaliação, 3cm. Mas a essa altura eu já imaginava essa evolução, já que o TP ainda não havia engatado. E foi mais um dia inteiro de contrações! E nesse momento eu comecei a ficar com medo. Medo de fraquejar na hora punk! Pensava comigo: se o período latente já está desconfortável dessa maneira, como será o TP ativo??? Será
que eu vou agüentar? E é nessas horas que vemos como o trabalho da doula é imprescindível:minha querida companheira de parto me ajudou com palavras lindas de encorajamento,mostrando que nasci pra isso, me preparei para isso!
O apoio essencial da doula
Já era de noite, TP novamente não engrenara. Dispensei a doula, já que previa mais uma madrugada de contrações espaçadas (a terceira, estava MORTA!!!). Mas antes de ir, ela apertou um pontinho mágico entre a canela e a batata da perna, que ela disse ser o ponto do útero. Eu já estava tão descrente que nem dei muita bola. Fui deitar, tentar dormir entre as contrações, o que para mim era impossível. E as contrações começaram a vir mais intensas, mais duradouras. Mas mesmo assim eu não acreditava. Cheguei a pedir para elas irem embora, que eu estava muito cansada, precisava dormir. Mas elas (GRAÇAS) não me obedeceram!!! Começaram a vir com intervalos mais curtos, apesar de não estar mais marcando.
Até que não deu mais para agüentar!! Tive que levantar, contração deitada é MUITO ruim!!!! Chamei meu marido e entrei no chuveiro, eram 2h de 28/08, sexta-feira. Pedi para ele marcar os intervalos. Surpresa: 3 minutos!!!!!!!! Nem acreditei, era o início do meu TP!!!!! As contrações estavam MUITO intensas, logo a doula chegou, eram 2h40. E a partir desse momento, tudo fica meio obscuro... Acho que eu me concentrei tanto, estava tão focada que não lembro de muita coisa. Para mim o tempo passou voando!!!! As contrações eram fortes, doía, mas nada me fazia sair do foco.Claro que reclamei diversas vezes, não sou de ferro, cheguei
até a negar uma contração, normal... Lembro de ter falado com a doula que se quando o Dr. Fred chegasse eu tivesse com 4 cm eu piraria!!
Em pleno trabalho de parto
E ele chegou, eram 5h, ele mora do outro lado da cidade! Avaliação as 5h25: 8 cm!!!! Meu Deus, que alegria!!! Renovou minhas forças! E ele disse que Rafaela ainda estava alta, que dali por diante, em cada contração, eu deveria me agachar, acocorar. E foi o que fiz. Vinha uma, eu acocorava. Pedi para ir ao chuveiro. E dali só saí com minha filha no colo... Cada contração que vinha, eu acocorava, sem banqueta de parto, era eu e as forças das minhas pernas. Até que elas começaram a vir em espaços tão curtos que nem levantei mais! E aí tudo ficou ainda mais
sem nexo. Vendo a gravação do parto, eu vi que a doula falava comigo a todo momento, mas eu não lembro de nada, não ouvi uma palavra.
Comecei a sentir a tal vontade de fazer força, era incontrolável, que delícia! Eu urrava como uma verdadeira loba, era um urro que vinha de dentro. Em uma contração, que para mim não tinha mais intervalo, eu coloquei a mão e senti! Senti a cabecinha da minha amada filha. Que emoção! Falei que tinha algo diferente na minha perereca (isso tá gravado, muito engraçado!!) e a doula chamou o Dr. Fred. Quando ele entrou
no chuveiro foram duas forças, uma atrás da outra, sem intervalo, e saiu minha pequena, linda, serena, já tomando banho de chuveiro, direto para os meus braços. Que prazer indescritível. Que momento mágico. Sentir todo o corpinho passando por mim, sem palavras... Até agora, se fecho os olhos, sinto esse momento único! Eu só lembro de ter olhado para o meu marido e gritar EU CONSEGUI, minha filha nasceu por MIM!!!!
Momento do nascimento
A placenta saiu logo após, nem fiz força... Saí do chuveiro sendo amparada pelo meu marido, eu fiquei bem fraquinha. Deitei na cama e o Dr. avaliou o períneo, que ficou ÍNTEGRO, apesar da intensidade do expulsivo. Levei apenas um pontinho na região dos pequenos lábios. E Rafaela mamando calmamente no meu seio, ao som de Enya...
Rafaela nasceu no conforto do seu lar, às 5h43, junto com o sol, para iluminar ainda mais a minha vida!!!
Considerações finais...
Pressinto que se eu tivesse optado por um parto hospitalar teria entrado na faca, já que foram 2 dias de “trabalho de parto” sem evolução na dilatação... Apesar da recuperação ser 100% melhor do que na cesárea, me senti extremamente cansada, devida as noites anteriores não dormidas e a perda de sangue. Cheguei a quase desmaiar. O que foi um momento bem interessante... Eu queria levantar para fazer xixi, já tinham se passado 4h do parto. Quando levantei, meu marido me ajudando, milhares de vozes de mulheres ao mesmo tempo me diziam, de várias formas diferentes, como o meu parto havia sido lindo, o quanto estavam orgulhosas de mim. Quando eu dei por mim, eu estava praticamente desfalecida no colo do meu marido. Foram minhas ancestrais??? Gosto de pensar que sim!
]
Rafaela e o pai
Apesar do meu querido e amado marido não ter apoiado de início a idéia do Parto Domiciliar, ele foi de um companheirismo inigualável! Ficou a todo o momento ao meu lado, dando suporte físico e psicológico. Sem ele certamente as coisas não teriam fluído da maneira como fluíram. Sim, porque apesar das contrações terem começado cedo, o TP propriamente dito foi muito intenso e rápido, com duração de 3h40.
Além dele, a presença, mesmo que escondidinha, da minha mãe também foi de muita
importância. A bichinha soube direitinho o seu papel no parto, que era de dar o apoio total a mim, sem interferir no momento. Ela foi linda! Sem palavras para a minha querida doula. Foi de suma importância, acho que sem ela eu não
teria dado conta do recado...
Enfim, foi isso, de um nascimento via cirurgia que para mim havia sido suficiente, eu renasci como mãe e mulher no nascimento humanizado
As irmãs
SEm palavras!! Chorando apenas!!!
ResponderExcluirRealmente.. é difícil ter o que falar!
ResponderExcluirUm relato como este nos faz pensar o quanto o parto humanizado está distante da nossa cultura..
muito bonita esta história.
bjos, Glau
Chorando também! Que orgulho Carol! Lindo seu relato! Lindo!!!
ResponderExcluirQue coisa mais linda! A história mais emocionante que já passou por aqui. Lindo, lindo!
ResponderExcluirQuanta coragem!!!! Eu tive dois meninos de cesárea (por escolha minha mesmo) e não me arrependi!!!! Acho que me senti mais segura no hospital caso viesse a acontecer alguma coisa comigo ou com os meninos e lógico que por não agüentar a dor que iria sentir no parto normal. Mas nada disso se compara ao inicio da amamentação, que na minha opinião é muito mais desconfortável que a cirurgia!!!!
ResponderExcluirQue relato emocionante... tem que ter muita coragem! Parabéns, Carol!! Felicidades!
ResponderExcluirQue lindo! Estou grávida pela primeira vez e comecei a querer escrever sobra a gravidez.
ResponderExcluirFico pensando aqui, qual será o meu relato de parto? Um parecido com o seu seria muito bom!