segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Darth Vader X Mickey

Estou há dias com este post na cabeça e agora está na hora de escrever. E não consigo pensar em outra coisa a não ser: o caminho do meio. No fim da escola e começo da faculdade, eu era a menina que adorava ler sobre a revolução cubana, mas morria de vontade de ir pros EUA e morar lá. Então, adorava todas aquelas ideais de esquerda, mas consumismo era aquela coisa linda. Nunca me senti parte de nenhum grupo. Na minha infância vivi em muitas cidades pelo interior do Brasil e tinha aquela coisa e morar em vila, brincar com os vizinhos, subir em árvores, etc. Fui no cinema pela primeira vez com 10 anos ver Lua de Cristal (aquele mesmo com a Xuxa), não porque meus pais não queriam que eu fosse antes, mas porque foi quando finalmente abriu um cinema na cidade. Mas assistia muita televisão e filme em casa. Se comer jabuticaba no pé era uma delícia, uma das minhas memórias de infância era passar no Bob's uma vez por ano nas nossas viagens de férias na serra que ligava o Rio até Resende, cidade onde minha avó morava e onde eu nasci. Mas, onde vamos com isso? Bem, até aqui. Com as meninas crescendo eu fico pensando até onde vai o consumismo nesse mundo moderno em que vivemos. Que caminho do meio é esse que elas podem seguir em um mundo onde acessibilidade é mais fácil que jogar bola na esquina, onde galinhas pintadinhas azuis estão por toda parte e onde os pais que cresceram com uma vontade enorme de ir pra Disney com 15 anos (o que inclui euzinha aqui, que nunca fui, aliás) agora tem dinheiro para realizar esse sonho quantas vezes quiserem em uma vida toda.

Sem título Bella e Maria

As meninas estão quase com dois anos e eu sinto que elas se interessam cada vez mais por coisas. Sim, coisas. Objetos, pessoas, coisas que antes na vida de bebê delas passava batido, mas agora chama a atenção. Entre elas, a televisão. Eu já falei aqui que não acho legal ou necessário que um bebê assista TV, DVD ou vídeo na internet e é um assunto que sempre dá polêmica (aqui ou no instagram @familiamoderna), mas eu sempre pensei que o tempo gasto vendo desenho era um tempo perdido, em que elas podiam estar brincando e desenvolvendo a coordenação motora, a comunicação, em especial. etc, etc. Por isso, aqui nunca rolou, mas não, não criei minhas filhas numa bolha, blá, blá, blá. Eu assistia TV na frente delas, elas adoravam a música de abertura de Big Bang Theory, por exemplo, paravam pra ver e depois já voltavam a brincar. Mas, há uns meses, comecei a deixar as duas verem alguns videos na internet. Primeiro de músicas que a gente gostava, depois de músicas voltadas pra crianças. E há uns dois meses, comecei a mostrar alguns desenhos na TV e elas ficaram, de fato, interessadas. Nesse tempo todo, eu usei meu filtro de mãe, nada de desenhos bilíngues, coisas complexas, etc. E, ainda sim, assistimos pouquíssima TV, e eu sempre junto das duas.

Aí outro dia estava na casa da minha mãe e ela colocou na tal da Casa do Mickey Mouse, como elas têm uma Minnie e um brinquedo de encaixe com os personagens, reconheceram na hora. E quando acabou ficaram pedindo mais! Apontando pro controle e etc. O quê? Olha, eu quebrando a cara aí. Sim, acho bonitinho que elas tenha identificado o Mickey e mostrado interesse em alguma coisa, mas até que ponto a gente deve incentivar isso? Vamos comprar tudo do Mickey, fazer a festa de aniversário do tema, comprar roupa, pijama, biquíni, maçã do Mickey mostrar o desenho de novo, de novo e de novo? Todas as coisas que são quase instintivas para os pais nos dias de hoje. E não vejo problema nenhum elas se identificarem com uma animação, personagem, Mas meu instinto diz outra coisa: bora encontrar o equilíbrio no meio dessa coisa toda? Nem totalmente sem, nem tanto? Caminho do meio, minha gente. Elas sabem que é a Branca de Neve e a Cinderella, ganharam bonecas, tem os livros, mas não é só isso que elas brincam e nem existe uma obsessão por trás. Acho que também isso depende muito dos pais e dos gostos dos pais, por isso voltamos de novo: caminho do meio.

Sem título Sim, a gente sai na rua de pijama, aliás

E como a maternidade é cheia de contradições, entra o Darth Vader nessa história. Meu marido é fã de Star Wars. Então, achei um livrinho infantil, em inglês porque não tem edição em português, que brinca com a coisa do Darth Vader ser o pai do Luke e da Leia. É esse aqui.

Sem título
Comprei no Ebay :)

As meninas amaram o livro (acho que muito por influência nossa) e eu lia pra elas com a minha interpretação, não como estava no livro. Depois ganharam outro livro do Star Wars e sempre apontavam pro "Dati Veider". Aí a gente foi no mercado e tinha um boneco do homem vestido de preto que a gente colocou no carrinho para dar de presente de Natal pro nosso sobrinho, mas foi aquela coisa "Dati Veider, Dati Veider, Dati Veider" e a gente acabou comprando pra elas mesmo. E ele faz sucesso desde então. Veja bem. Darth Vader é um vilão na história (calma, é isso mesmo que você lembrava), mas pra elas não, e é a gente incentiva que elas brinquem com ele. Não deixa de ser um personagem comercial, não deixa de ser um consumismo. Pensamos em fazer a festa delas de Star Wars, inclusive. Mas existe uma diferença aí: controle. Primeiro, Darth Vader não está por todas as partes, não tem desenho, aparece de vez em quando em uma festa ou brinquedo de um primo/tio mais velho. E é um personagem criado por nós. O Darth Vader pai da Leia e do Luke.

O fato é que sempre temos que procurar um caminho do meio. Não ficar alheio ao que acontece ao nosso redor, o que faz parte da nossa cultura e coisas que talvez a gente não goste, mas nossos filhos vão ter contato eventualmente. E qual direção você quer guiá-lo, porque sim, essa é nossa responsabilidade. Ensinar, incentivar a escolha é nossa responsabilidade e não da escola, do amigo, do desenho, da história. Ainda acho cedo, por exemplo, pras meninas verem filmes da Disney, por exemplo, ainda que eu tenha meus favoritos (Mulan, é o meu favorito de todos os tempos, aliás). Primeiro porque elas não vão entender, segundo porque acho muito complexo. Não estou falando que minhas ideias são certas e quem gosta da Galinha Pintadinha, por exemplo, é errado. Só acho que é preciso equilíbrio, compartilhando o que está dando certo pra gente e ainda sim tentando aprender. Acho que tudo tem seu tempo e como eu me agarro a ele, como eu quero que minhas meninas sejam apenas meninas, que gostem de ler seus livros, brincar na rua, descobrir parquinhos e falar pelos cotovelos. E, sim, que vivam num mundo de fantasia também, afinal sonhar faz parte da vida.

Sem título

13 comentários:

  1. Para nem terminei de ler o post e já tive que comentar, minha filha como eu fiquei feliz em saber que vc é da minha cidade!!! Que mundo pequeno justo umas das minhas blogueiras favoritas ser da minha cidade, hoje moro no Rio mas vou todo mês p/ Resende, você tem ido lá? Tem família lá ainda? Bjs vou continuar a ler aqui

    ResponderExcluir
  2. Eita, parei lá no Bobs de Resende. Ali na beira da Dutra né? :) Que lembrança boa. Mas voltando ao post... Tem muita gente lutando pela regulamentação da publicidade infantil. Acredito ser um belo paço para encontrar este caminho do meio. Esse blog tem um conteúdo legal: http://www.infancialivredeconsumismo.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Oi Tati,
    Meu marido e eu somos viciados em Tv. Mas, de todo coração, quero que o Davi trilhe o caminho do meio. Então, estou na tentativa que com paciência e persistência conseguirei remar contra a maré.

    ResponderExcluir
  4. Também filtrei bastante desenhos de Edinho, mais hoje por exemplo ele é fissurado no Ben 10, mais eu não deixo assistir, pois eu acho muito violento! Porém mesmo assim ele gosta, fala a todo mundo sobre o Ben 10, e ele ganha presentes do Ben 10, tem toalha, pijaminha, óculos, relógio, sandália e uma bike do Ben 10! Não posso negar presente, todos foram dados de coração e aposto que lembrando na alegria dele ao falar do personagem! Mas é bastante dificil evitar o consumismo, principalmente depois que entram na escola. Mas procuro aqui mostrar o que é bom! Livros, musicas, brincar na rua, praia. Tento de todas as formas interagir com ele, buscando as brincadeiras sem o personagem, mais sempre ele da um pulo, bate no braço é grita Beeen 10. Acaba comigo. E a vida, eles vão crescendo.

    ResponderExcluir
  5. Vc conhece o Palavra Cantada? Eu e meus filhos amamos. Acho ótimo pq é música, brincadeira , e totalmente contra o consumismo. Por favor, Dê uma olhada quem sabe é a iniciação das meninas, meu filho mais novo tem 1a8m e confesso que a tv é o que consegue me deixar fazer tarefas domésticas. Este grupo está longe dos modismos , ensinam muito, é pura cultura e diversão, tenho certeza q não vai se arrepender. a favorita do meu pequeno http://www.youtube.com/watch?v=diF09QYJIkM http://www.youtube.com/watch?v=PuQPMnQfkZ8

    ResponderExcluir
  6. http://www.youtube.com/watch?v=PuQPMnQfkZ8 http://www.youtube.com/watch?v=qFsyPA_3spc Vc conhece? Pura cultura, sem consumismo, meus filhos amam.

    ResponderExcluir
  7. A favorita do meu filho de 1a8m http://www.youtube.com/watch?v=diF09QYJIkM

    ResponderExcluir
  8. Tati, eu (ainda como observadora e não mãe) entendo perfeitamente sua colocação!
    Sempre li que estas questões (viagens à Disney e escolas bilíngues para uma criança com menos de 2 anos, por exemplo) são mais uma ansiedade dos pais para que a criança tenha e viva tudo aquilo que eles viveram "tardiamente", do que realmente uma necessidade de fato. Sem contar toda aquela história de "mompetition" (que é um saco!). As pessoas hoje em dia têm pressa de tudo, e isso recai sobre os filhos. Suas escolhas para o dia a dia das meninas são super adequadas para o desenvolvimento delas nesta fase, coisas simples que vivemos como parquinho e passeios ao ar livre. Pode ser que mais pra frente com a chegada do terceiro tudo caia por terra, mas você está fazendo o seu melhor. Tudo tem seu tempo certo, não é mesmo!
    Elas estão cada vez mais lindas! Parabéns!!!
    Bjos, LiviaGK

    ResponderExcluir
  9. Tati, ainda não tenho filhos mas adoro acompanhar seu blog e ir aprendendo e principalmente REFLETINDO! Pois o que eu vejo e que vc mesmo diz:"Vamos comprar tudo do Mickey, fazer a festa de aniversário do tema, comprar roupa, pijama, biquíni, maçã do Mickey mostrar o desenho de novo, de novo e de novo? Todas as coisas que são quase instintivas para os pais nos dias de hoje." Está tudo tão no automático, já que tem propaganda, todas as crianças tem o meu filho vai ter também...
    Fui criada direto em frente a tv e penso que não é a melhor forma... apesar de que não dá pra não ter tv em casa como alguns fazem, eu adoro tv, seriados... tem que realmente refletir muito, resistir as tentações e pressões da sociedade, os questionamentos da família (ai quer viver numa bolha?? E quando for para a escolinha, vai conviver com outras crianças e vai querer tb) e tentar fazer diferente! Parabéns e continue inspirando assim!

    ResponderExcluir
  10. Muito legal esse post!
    Acompanho vcs no insta e vim dar uma passada no blog hoje!
    A sociedade nos padroniza de tal forma, que até acabamos nos sentindo mal de sermos tão diferentes (pelo menos assim eu me sinto). Se vc diz que seu filho não vai ter a tal da galinha pintadinha, só faltam gravar em vídeo isso pra qdo acontecer uma vez estarem prontos a jogarem na sua cara "viu, eu disse que vc não conseguiria"! hehehe
    Um beijos

    ResponderExcluir
  11. Eu penso exatamente como você, o problema é que nem sempre o resto da família e os amigos pensam como a gente. Muitos menos os pais dos amiguinhos da escola. E tudo, absolutamente tudo, influencia os nossos pequenos. Infelizmente tem coisa que não há como evitar. Por exemplo, eu nem compro presente de dia das crianças para a minha filha de 4 anos, porque sei que ela já vai ganhar dos tios e dos avós... E está muito bom, pois não quero incentivar o consumismo. Mas no último dia das crianças ela ganhou 4 itens diferentes das "princesas da Disney". Ela mesma me perguntou: mamãe por que só ganhei presentes das princesas? Ela gosta sim, principalmente da Cinderela e da Bela, mas acho que até ela achou um exagero! Mas, paralelamente à toda essa influência, como eu e meu marido evitamos a TV e temos uma infinidade de livros, ela ama histórias, brincadeiras ao ar livre e pintar... principalmente quando rola uma bagunça com as tintas... E vamos tentando equilibrar!

    ResponderExcluir
  12. ai Tati, to nessa do "caminho do meio" também. Os meus nunca viram Galinha Pintadinha. De vez em quando eu até ligo a tv para eles, em alguns programas e desenhos que eu seleciono, mas eles não ligam não. Sábado agora é a festinha do 1o aniversário deles e tenho certeza que eles vão ganhar coisas comerciais... mas vamos lá continuar nossa missão "Não! ao consumismo desenfreado na infância" :)

    ResponderExcluir
  13. Assino por baixo o post!

    Hoje resolvi dar uma olhada no blog e estou adorando! Parabens!

    ResponderExcluir