quinta-feira, 3 de abril de 2014

Amamentação, a revanche e a livre demanda (Parte 1)

Aqui estou eu, pessoas! Consegui um tempo na vida que acontece por aqui para escrever um post que está na minha cabeça há semanas, mas obviamente o computador está cada vez mais distante de uma mãe de três em adaptação. Porém, vamos aproveitar o tempo disponível, certo?

Amamentar não é fácil. Ponto. Eu amamentei as meninas durante 7 meses e três semanas e foi uma luta. Eu não tinha me preparado pra isso, li uma coisa ou outra na gravidez, mas sempre pensava que era "instintivo", que eu e elas íamos saber o que fazer. Mas não foi bem assim. Como bebês pré-maturos, elas tinham dificuldade para sugar, acabaram recebendo complemento no hospital e eu super mal informada deixei, não procurei um pediatra antes para me orientar, e elas demoraram para pegar no peito e eu sofria. Fomos pegando o jeito com o tempo, mas continuei complementando. No fim de tudo, fiquei com o sentimento que poderia ter feito mais e dessa vez eu sabia que ia ser diferente. Estava preparada para fazer o que a amamentação mais nos exige: entrega, e as meninas me ensinaram isso da primeira vez.

Mama, Fran-chico, mama

Acho que antes de começar a contar como tem sido a minha experiência com o Francisco, precisamos definir uma coisa: livre demanda. Eu me lembro muito bem quando eu ouvi essa expressão, nos primeiros dias no hospital com as meninas, a minha concunhada perguntou: "o pediatra disse para vocês que era pra alimentar de três em três horas ou livre demanda?". Eu olhei pro Marco, ele pra mim, e os dois sem ideia do que aquilo significava ou se o médico tinha falado qualquer coisa do tipo. Pensei: "livre demanda é dar de mamar sempre que o bebê quiser? Então tô fazendo isso". Mas não estava. E livre demanda é muito mais do que isso. É dar de mamar quando o bebê tem fome, quando ele chora, quando ele não tem fome mas quer o peito, uma hora depois de ter mamado, meia hora depois de ter mamado, quatro horas depois de ter mamado, ou independente de quanto tempo ele passou sugando o peito, é não contar as horas (ainda que às vezes a gente conte, é tentar não se importar com elas)

* Para os futuros pais de gêmeos que passam por aqui, fica a dica do que não fazer: com as meninas a gente fez uma tabela com o nome de cada uma para anotar a hora que cada uma mamou e quanto tempo. Eu achando que estava fazendo a coisa mais maravilhosa e esperta do mundo, e achava que ia dar de mamar pra uma e esquecer da outra, mas isso foi um grande erro e atrapalhou muito. Estava focada na fome, na engorda e não no afago, em deixar o leite fluir. Não recomendo ou aconselho fazer tabela.

Com o Francisco estava tão confiante, pensava muito na amamentação durante a gravidez, que senti que até meu peito estava diferente. Fiz um pouco de preparação, mexendo nos mamilos depois do banho, mas não fiquei obsessiva. Quando ele nasceu, foi para a UTI por causa de um desconforto respiratório e nesse primeiro momento já perdi o que eu tanto queria: amamentar na primeira hora de vida. De novo a história se repetia, mais um bebê longe de mim logo depois do nascimento. Fomos visitá-lo e ele estava com a sonda, ele ia ficar mais um tempo em observação porque precisava fazer um exame de sangue pois tinha chance de infecção por conta da bolsa rota, procedimento de hospital. De tarde, tiraram a sonda e eu coloquei ele no peito. Ele deu umas sugadinhas e eu fiquei super feliz. Deixei ele lá com a boca no bico o quanto eu podia. Me falaram que podia voltar em três horas para tentar de novo (olha o tal do tempo lá).

Quando eu voltei, tentei dar o peito de novo e depois a enfermeira pediu pra gente sair um pouco porque ela ia dar o complemento. No caminho, encontrei com o pediatra que disse que ele ia ter alta, tudo ok com os exames. Yay! Demorou pra ele subir pro quartove ainda deram mais um complemento. A enfermeira que levou ele (que é leitora do blog e minha seguidora no instagram, olha que lindo!) me avisou que estava programado mais dois complementos. Nãaooooooooo. Falei pra ela que não queria e ela me apoiou. Ninguém apareceu de madrugada. Ufa. Afinal, se desse complemento ele não ia pegar o peito, oras. A fome é o que ajuda no tal do instinto, que existe sim, mas precisa de um empurrão nosso.

Nessa primeira madrugada juntos, tentei dar o peito depois de umas três horas e ele gorfou feio. Não insisti, achei que ele deveria estar cheio daquele complemento.  Deixei ele no meu colo e dormimos mais um pouco assim. No meio da minha jornada como mãe descobri que colo era bom e ajudava na descida do leite, ajudava a fluir. Nada de "ele vai ficar mal acostumado no colo", e lá ficamos nós. Até que só quando estava amanhecendo ele pegou mesmo no peito. E depois foi indo e foi lindo.

Nos dias seguintes meu bico feriu e o peito doeu, mas continuei porque sabia que era assim mesmo, tinha que "calibrar" a coisa toda. O remédio era o próprio leite que eu passava no bico sempre depois das mamadas. Depois o leite desceu, não me lembro quantos dias depois, mas não demorou. E aí venho um outra novidade. Francisco passou uma madrugada toda sem mamar direito, sugava e parava, lutava contra o peito. Fui logo achando que podiam ser gases. Não acordava ele quando ele dormia quatro horas seguidas, mas nesse dia fiquei preocupada porque ele não tinha mamado e estava dormindo muito. Liguei pra minha parteira para me orientar e ela matou a charada. Como o leite desceu, meu bico inchou e mudou o formato, por isso ele tinha que se reacostumar a sugar. Que alívio. Como já sabia o que era foi só insistir um pouco, usei em alguns momentos a concha de amamentação pra dar formato no bico, que ele voltou a pegar. Ufa.

Tivemos altos e baixos, como todas as mães têm. Alguns dias fico mais cansada e desanimada, cheguei a ficar tensa antes de colocar ele no peito algumas vezes porque doía, mas respirei e tentei deixar fluir, afinal era aquilo que eu precisava fazer, eu precisava alimentar meu filho. Em alguns dias, como um bom guloso, ele mama muito, de hora em hora, durante muito tempo em cada peito. E tudo bem, isso é livre demanda. Sei que talvez não seja fome, mas vontade de ficar perto. Em algumas ocasiões ele começou a dar umas reclamadas de leve e já pensei "ih, são gases" ou "por que ele está mamando loucamente desse jeito?". Aí lembrei de um texto do pediatra espanhol Carlos González que eu li há muito tempo atrás e resolvi ler de novo. E vi que estava no caminho certo.

E temos ficado assim. Não tenho ideia de quantas em quantas horas ele mama, às vezes meia hora, mas já chegou a ter cinco horas. É claro que é cansativo, ainda dói vez ou outra, e como bom terceiro filho eu não atendo o Francisco no primeiro chorinho ou barulho que ele faz no berço, mas estou sempre ali disponível com peito e amor. Sem contar as horas, apenas livremente.

10 comentários:

  1. É muito bom ler relatos como o seu. Sempre pensei que meu maior desafio seria amamentar minha filha e ainda é. Antes dela nascer tentei me cercar de toda informação possível e só soube que tinha escolhido amamentar por livre demanda quando vi que minha filha era um bebê tranquilo e seguro pq eu dava a atenção que ela precisava sempre que me pedia.
    Ela está com dois meses e até hoje não sei se estou fazendo certo, mas tento. Senti muita dificuldade no início pq faltou muita informação além do "seu peito vai rachar e é normal". Não sabia que o leite poderia demorar a descer mais de 72h e quase pirei quando o meu não veio nesse período. Mesmo assim insisti pq sabia que ela precisava.
    Espero que mais mulheres encontrem uma certa tranquilidade ao ler seu texto e que através dos comentários daqui e dos outros canais consigam mais orientação, coisa que senti tanta falta no início. ;)

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  2. Ai que delícia, por incrível que pareça vc me ajudou muito a conseguir amamentar as minhas gêmeas exclusivamente até o 6 meses... agora estamos na IA, mas o tetê da mamãe está aqui sempre disponível!

    Enorme beijo!

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  3. Ai Tati, por muito menos muitas mães desistem de dar o peito. É raro encontrar uma criança que foi amamentada exclusivamente no peito até 6 meses, e isso me dói! Sou mãe e amamentei até 1 ano e 2 meses e sinto muito falta. Além disso, sou fonoaudióloga e aproveito para falar que esse profissional também é especialista em amamentação, principalmente quando o bebê tem a pega errada. Quem tiver interesse vale a pena procurar um fono, ele ajuda a descobrir o que pode estar dando errado e defende fortemente a amamentação. Ah, sou fã do blog! Beijos!

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  4. Sabe Tati, quando estou extremamente cansada por ser mãe de primeira viagem e muitas vezes não saber como lidar com minha bebê de dois meses, corro pra cá e leio algum texto seu. Esse por exemplo foi escrito pra mim: "amamentar não é fácil. Ponto." Em alguns momentos fico achando que o problema sou eu, mas na verdade são coisas que fazem parte do processo de se tornar mãe e encontrar o melhor caminho para que as frustrações não sejam tão grandes. Ai que cansaço! Rs. Muito legal seu blog e seu IG. Suas crias são riquezas! Parabéns!

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  5. Que bom que voltou ,seu relato é tão bom ,tão bem explicado.Suas princesas e seu príncipe são lindos

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  6. respirar fundo na hora de abocanhar..

    acho que nunca vou esquecer issoo...

    tenso ne..

    mas ainda bem que passa! e depois é só correr pro abraço!

    ou pro peito! hehe

    feliz por vc!

    saudades!

    beijoss

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  7. Que bom que deu certo agora!! Também sonhei com uma revanche, mas a minha não aconteceu.... com meu primeiro filho não consegui amamentar, ele era super guloso, sugava e não saia nada, ficava desesperado e gritava de fome, meu leite não descia, quando desceu empedrou, enquanto isso um bebe faminto gritando... nào tive estrutura pra esperar mais e dei complemento, continuei insistindo, compressa massagem, mas quando desempedrou não veio mais leite... quando pedro e francisco nasceram, mais um obstaculo, com 36 semanas eram pequenos e não sabiam sugar, leite novamente demorou muito.....aluguei uma bombinha pra ir estimulando enquanto eles não conseguiam mamar, e dava complemento de copinho, oferecia o peito mas eles não sugavam e estavam emagrecendo... mantive a calma, tentei, mas leite que é bom não vinha... o máximo que consegui tirar um dia com a bomba foi 60 ml, como ia alimentar 2 com isso???? Não sei o que acontece, todo mundo diz que isso não existe, mas simplesmente não produzo leite, esse pouquinho em poucos dias desaparece ao invés de aumentar, da segunda vez nem sequer empedrou de tão pouco que tinha, gostaria de entender isso algum dia! Por enquanto me conformo que tanto meu filho mais velho que hoje tem 6 anos é super saudável e os bebes que eatão com 5 meses também estão super bem com 8 kilos de fofura!!

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  8. Parabéns, Tati! Daqui a poucos dias você não vai nem lembrar direito da peleja dos primeiros dias, de tão bom que é!

    Beijos!

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  9. É isso mesmo, Tati. Eu aprendi que na 1a gravidez a gente se preocupa muito com os 9 meses e o parto e acaba se preparando pouco para depois do nascimento. Amamentação, relacionamento com o marido, com os pais/sogros, rotina, tudo isso muda e também requer preparação... Isso sem falar na mudança que a gente sente por se tornar mãe.
    Quanto à amamentação, na minha opinião só consegue amamentar numa boa quem percebe que peito não é só alimento. Eu cheguei da maternidade com essa coisa das 3 em 3 horas e acho que até segui por um tempo, mas depois eu ouvi um conselho de uma amiga que foi simplesmente precioso: "na dúvida, dá o peito". E foi o que fiz. Parei de contar horas e deixei ela no peito o quanto ela quisesse. Não foi fácil não. Mas consegui amamentar por 1 ano mesmo tendo voltado a trabalhar quando minha filha tinha 5 meses e meio.
    O peito é carinho, aconchego, toque, segurança. Os recém nascidos precisam de peito e colo. A única coisa que sabem fazer é sugar, então é isso que temos que entender. A entrega é enorme, cansa, dói, mas é muito prazeroso vê-los crescerem só com nosso leite. Para mim dar o peito foi como uma continuação da gravidez, um vínculo que preservou a nossa proximidade. Sinto saudade até hoje!!
    E quanto ao colo eu também dei muito e dou ainda - ela está com 1 ano e 10 meses. Darei colo enquanto meu corpo aguentar.
    Tenho certeza que com a experiência e entrega, você conseguirá amamentar muito o Francisco e cuidar muito bem de suas meninas!!! Precisando de ajuda, fico à disposição, ok????? Tati

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  10. Lindo seu relato !Comigo aconteceu a mesma coisa, com meu segundo filho, apesar de já ter amamentado o primeiro e ser Enfermeira,passei por muitas dificuldades,muitas vezes (nos primeiros dias) amamentei chorando,pois ela tinha ficado sugando por muito tempo,mas jamais pensei em desistir. Foi um prazer ter passado essa experiência pq hoje nossos filhos estão grandes e saudáveis. E te digo que tenho muitas saudades. Boa sorte com o Francisco Abraço

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