domingo, 6 de novembro de 2011

Parto meu - Maria Fernanda Seixas

O blog hoje começa uma nova série que já me aperta o coração! Vamos falar sobre partos. A ideia é compartilhar histórias deste momento inesquecível e imprevisível da vida de uma mãe, um pai, uma família inteira. Eu não sei vocês, mas minha parte favorita ao ler os blogs maternos da vida são os relatos dos partos. Não acredito que exista um momento mais sofrido e mais mágico que este.

Eu tenho pensando muito no parto das meninas, nas nossas possibilidades e descobri que pesquisa é tudo nesta vida, especialmente quem quer ter um parto normal e natural. Ler relatos faz com que a gente fique mais perto desta realidade e aprenda também. São textos longos, mas que valem cada linha escrita e prendem a atenção do começo ao fim. Informação é tudo na vida de uma família moderna, minha gente! Chore, se inspire, respire e viva com as histórias das mães que devem passar por aqui. Então, vamos lá:

O primeiro depoimento é da Maria Fernanda, grande amiga, dona do blog Quero ser vintage e que é quase veterana aqui do Manual. Ela é minha grande conselheira quando o assunto é gravidez, maternidade e afins. Há quase 5 anos atrás, a vida dela mudou para sempre e ela conta como foi:

"Era uma noite de sábado e depois de duas sessões seguidas de acupuntura, em minha 41ª semana de gravidez, eu chorava no carro. A médica tinha me dado o deadline na quinta-feira, data da minha última consulta: se não entrar em trabalho de parto até domingo, vamos para o hospital na segunda-feira ter esse bebê. Fiz uma série de sessões de acupuntura ditas “infalíveis” para desencadear o trabalho de parto. E nada. Nenhuma contração, nenhum sinal e um mantra na cabeça “vou entra em trabalho de parto, vou entrar em trabalho de parto”. Quando no sábado o acupunturista me disse que eu era a primeira cliente que depois de quatro sessões não tinha conseguido entrar em TP, comecei a perder as esperanças. A médica ainda deu a opção de tentarmos induzir o parto na bendita segunda feira. E que se não desse certo, seria uma cesárea — o que para mim, era impensável.

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Família completa: Fernanda, Otto e o pequeno Tarso

No fundo, meu instinto materno dizia que não era a hora ainda. Mas era meu instinto contra a palavra da médica. Ela dizia que depois da 41ª semana é perigoso manter o bebê na barriga. A placenta envelhece e o risco da criança entrar em sofrimento fetal cresce em progressão geométrica. Não tinha mais o que fazer. No sábado a noite, sendo consolada pelo meu marido, sabia que meu parto não seria mais natural. Mesmo que fosse vaginal, seria diferente. Cheio de catéters, agulhas, hormônios sintéticos (para quem não sabe, a ocitocina que se usa na medicina tem origem suína), enfermeiros, aparelhos cirúrgicos. Mas aí caí a ficha que o bem estar da criança está bemmmm acima dos nossos sonhos com o momento do parto, e eu finalmente relaxei. Passei um domingo tranquila.

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Gravidíssima

Na segunda de manhã, dia 13 de novembro de 2006, fomos ao shopping adiantar a compra dos presentes de natal da família (sábia decisão). Comemos uma saladinha com uma carne magra (dia de parto, tem que pegar leve). Fui pra casa, sequei o cabelo bonitinho (tem que estar apresentável no primeiro encontro com o filho) e — momento embaraçoso — fiz um vídeo para o meu filho, sem que ninguém visse. Me deu uma insegurança de dar algo errado comigo, e resolvi que deixaria um recadinho gravado para ele. Chegamos no hospital, recebemos visitas de amigos e parentes. A médica chegou e lá pelas 15h injetou a ocitocina no soro, ligado à veia da minha mão. A expectativa de que em segundos, eu entraria em trabalho de parto. Nada. Aumentaram a dose. Nada. Enquanto Otto enchia a banheira inflável no quarto do hospital Santa Lúcia, calmamente, com uma cuia, eu estava ansiosa como uma criança que espera uma manhã de natal. Uma ansiedade boa. Aflitiva, mas boa.

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Na preparação para o parto

Duas semanas antes do parto eu já estava com 3cm de dilatação. Mas a ocitocina não trouxe nenhum progresso. Lá pelas 19h30 a médica entra mais uma vez no quarto. “E aí?” “Nada”, disse. “Vamos estourar a bolsa para ver se você finalmente entra em trabalho de parto.” Ela furou a bolsa com um instrumento que parece uma agulha tricô. Não doeu nada mas é como se estourasse um balão de suco de goiaba quente dentro de você. Saí um liquido espesso e rosado, morno. E em segundos, minha almejada primeira contração chegou. A médica sorriu e saiu do quarto. “Anotem o tempo das contrações. Já já eu volto”. Ficamos eu e Otto sozinhos, finalmente. Sem parentes nem amigos. Era o nosso momento, e mandamos todo mundo embora. “Avisamos quando puderem voltar.” Esse momento é muito íntimo, e quanto mais pessoas envolvidas, menos instintivo e confortável ele se torna. Há quem defenda até a ausência do marido. Mas, no meu caso, a presença dele foi essencial.

A primeira contração foi forte, porém rápida. Elas vinham em intervalos de menos de 3 minutos e cada vez mais intensas. Tentei segurar a onda, imaginando que a noite ainda seria longa. A médica voltou e me examinou. “5 cm”, disse. Para mim, o exame de toque foi o momento mais doloroso. Dizem que se dói, é porque o médico examinou forçando uma abertura ainda maior. Não sei o que aconteceu ali, mas sei que senti uma dor lacerante nesse momento. A médica deixou o quarto mais uma vez, agora dizendo que estava tudo progredindo muito bem, e que meu bebê nasceria lá pelas 4h, 5h da manhã. Eram 20h15. Mal ela saiu as dores começaram a vir em intervalos menores, mais e mais fortes. Fui para a banheira e senti um conforto imenso. Mas estava começando a me assustar. As dores eram muito fortes e eu não me imaginava aguentando todo esse processo até o amanhecer.

Durante as contrações, fazia os exercícios de respiração que aprendi na fisioterapia, tentava não lutar contra a dor, mas olha, taí uma coisa difícil de lidar. Durante uma das contrações, meu irmão entrou no quarto (porta de quarto de hospital não tem tranca, tampouco maçaneta) com um presente enorme na mão. Eu, só com a parte de cima de um biquini, dentro da banheira de cócoras, no meio do transe de uma contratação, só tive o instinto de gritar “Gustavo sai daqui” “Mas eu só vim deixar um presente” “Saiiiiiiiiii”, gritei. Ele saiu desolado. Quando segundos depois a contração acabou, e eu retomei a consciência, falei “Otto, corre atrás do meu irmão, traz ele de volta” Otto foi, mas Gustavo já tinha sumido. Fiquei arrasada, preocupada dele ter ficado chateado… por isso que eu digo: esse não é um momento passível de receber visitas. Deixem isso devidamente avisado a todos.

As dores só aumentavam e eu amarelei. A sensação é que se eu continuasse sentindo aquela dor, em intervalos tão curtos, até às 5h da manhã, eu não resistiria. Ligamos para a médica. Ela falou para nos acalmarmos, que parto induzido era mesmo mais doloroso, que eu devia estar caminhando para o 7cm de dilatação. Peguei o telefone e falei que para mim não dava mais. Queira uma anestesia. Ela então disse que com anestesia, o parto não poderia ser mais na banheira, e disse que mandaria um enfermeiro me buscar no quarto e me levar para a sala de parto (tudo o que, inicialmente, eu não queria).

O enfermeiro chegou. Mandou Otto trocar de roupa e me mandou sentar em uma cadeira de rodas. “Eu não estou inválida vou andando” “São regras, você só pode ser levada para o centro cirúrgico em uma cadeira de rodas”. Para evitar estresse, eu sentei, achando aquilo um equívoco. No momento que você senta naquela cadeira, perde automaticamente o controle da situação. Não estava doente, nem impossibilitada. Estava parindo. Podia andar normalmente. Mas, por ironia, depois de rodar uns 3 metros, a cadeira emperrou. Ele ficou me choacoalhando na cadeira de rodas, tentando desempenar a bicha enquanto eu começo a sentir uma contração. “Deixa eu ir andando logo?” “Não.” O tal do enfermeiro chegou uns 5 minutos depois. E eu querendo esganá-lo.

Cheguei na sala, tomei a anestesia, e foi como um banho frio em um dia de calor inclemente. Um baque de realidade. A dor passou automaticamente e eu deixei a postura selvagem e voltei ao meu estado normal. Fiz piada, ri, conversei, abracei a médica. A doutora então fez um novo exame de toque. Não tinha nada de “provavelmente caminhando para 7 cm de dilatação”. Eu estava com 10cm, na fase expulsiva. A cabeça do Tarso (nome do meu filho) já estava coroando. Se eu soubesse que já estava no fim do processo, talvez não teria tomado a anestesia. Talvez.

“Vamos empurrar.” Ali sem dor, não me preocupei em achar uma posição adequada. Estava passada. Meio deitada, comecei a empurrar. Ela resolveu fazer a episiostomia. Nesse momento, Otto ficou amarelo. “Pai, vai dar uma voltinha lá fora, tomar um ar”, disse a médica. Ele saiu e a médica disse que era o empurrão final. Como assim eu ia dar o empurrão final sem Otto na sala? Fingi empurrar, olhando para porta. “Empurra direito.” Nesse momento Otto volta.

Uma enfermeira mal encarada, que pesava seus mais de 90 quilos apoiou o braço na minha barriga e jogou o corpo sobre ele. A contração veio e elas mandaram “empurra”, fiz uma força descomunal, sem sentir absolutamente nenhuma dor, e o meu amor nasceu. “Nasceu”, Otto disse com a voz embargada. A gente se olhou e sorriu como quem abre um guarda chuva na boca. Um sorriso de orelha a orelha. E esse foi, definitivamente, o momento de maior êxtase e mais profunda felicidade que já senti na vida. Tarso era lindo e veio direto para o meu colo. Quetinho, com a bocona aberta, mexenco os frágeis dedinhos. No meu colo ele se acalmou, e ficou explorando o mundo com os olhinhos inquietos. A gente se olhou, eu devo ter falado alguma coisa cafona e a enfermeira o levou da sala para os procedimentos: banho, pesagem, testes etc.

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Nasceu!

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A melhor sensação do mundo

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Primeiro banho

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Hora de se mostrar para as visitas

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Pura felicidade

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Mas vale a dica: faça um plano de parto e leve ele a sério. Eu fiz o meu mas não exigi nada. Então teve episiostomia (que ficou dias dolorida), teve enfermeira maluca empurrando minha barriga, teve alguém levando meu filho embora no momento ideal para a primeira mamada, e outras intervenções que eu aceitei passivamente. Não permitam isso. Tenham o parto, seja ele uma cesárea ou um parto normal, que vocês imaginam ser o melhor para seus bebês. Boa sorte às futuras mamães e à família Stracquadanio!"

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Tarso lindo no berçário

3 comentários:

  1. É o momento mais divino que uma mulher pode viver!
    Parabéns a Fernanda, Otto e o pequeno e lindo Tarso!!
    Beijo,
    Roberta, mãe dos gêmeos Rute e Miguel

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  2. Eu, por exemplo, tive picos de pressão alta. Na 39 semana, minha pressão aumentou, a placenta tinha excesso de líquido e o médico julgou mais seguro fazer cesáreana. No momento da notícia sobre como seria o parto eu fiquei triste, mas depois da decepção nos conformamos pois a segurança do meu filho em primeiro lugar. Fui fazer cesáreana com se tivesse indo fazer as unhas...fui lá, abriram minha barriga, tiraram o neném, fui a última a saber que o neném tinha nascido! Depois com a Lívia pensei que tivesse uma segunda chance...que nada! Era arriscado demais fazer parto normal com menos de 2 anos de cirurgia, poderia desencadear uma hemorragia. A alegria de ter tido duas crianças saudáveis sem complicações superou a frustração de não ter participado ativamente do nascimento deles.

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