quarta-feira, 5 de junho de 2013

As confissões do parquinho

Aqui na nossa quadra tem um parquinho com areia, brinquedos de madeira e metal, escorregador, balanço. Não é lá um super parquinho, mas é um parquinho. E ele está sempre vazio. Enquanto eu passava horas ninando as meninas nos braços, quando elas eram pequenas, olhava pela janela e o parquinho: vazio. E cadê as crianças, gente? Estavam todas em um quadrado de concreto com banco e algumas estruturas de exercício." Por que será?",  me perguntava. Mas quando as meninas completaram um ano, lá estava eu empurrando um carrinho duplo até o parquinho, enquanto passava pelas outras crianças com suas babás, e eventuais pais, e sentia que todo mundo estava olhando pra gente. Bem, em pouco tempo, eu descobri que viramos assunto na quadra como as "frequentadoras do parquinho" e a "mãe que cuida das gêmeas sozinha".

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De vez em quando, no entanto, aparece uma criança. O primeiro veio com a babá e era quatro meses mais velho que as meninas. Comecei a conversar com a babá, depois que ela ficou horas no celular, e ela veio logo falando do filho dela. "Eu tenho um menino também. Tá com 11 meses e quem cuida é a minha irmã. Mas ele tá ficando cheio de mania, sabe? Não quer andar porque só fica no colo, é fogo, eu tento mudar, mas como a minha irmã fica o dia inteiro com ele é difícil". Sim, a babá estava reclamando da babá dela. Coisa louca do mundo moderno onde a tercerização da criação faz parte do nosso cotidiano e, muitos, não conseguem fugir dela, enfim...

O menino era quieto, calado, tímido e gostava de jogar areia na cara das meninas. Quando ele fez isso, a babá foi lá e deu um tapa nele. Eu fiquei chocada, mas fiquei na minha. Depois encontramos com ele outros dias e ele não queria dividir brinquedo e ainda batia nas meninas. Resultado: nem as meninas quiseram mais brincar com ele. Quando a gente se encontra no parquinho, cada um fica do seu lado. (Um parênteses: não sei se porque são duas, mas as meninas não ligam quando brincam com os brinquedos delas, e eu vejo que isso é um estresse 80% do tempo nos parquinhos. Socializar também é dividir brinquedos e a única forma de conseguir isso é incentivar o convívio com vizinhos, primos e amiguinhos, não necessariamente na escola. Deixar as crianças se conhecerem e se resolverem e não ficar o tempo inteiro "não faz isso, não faz aquilo", também ajuda muito!)

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Depois veio uma menina de dois anos com a babá. Ela passava pelo parquinho, pedia para entrar e nunca ia. Mas até que um dia ela entrou, brincou com os brinquedos das meninas e emprestou os dela, com muito custo, mas deu certo. A babá boa gente, carinhosa com a menina, pergunta: "você cuida delas sozinha mesmo? como você consegue?". E aquele papo de "conseguindo", etc. E ela ainda completa: "essa fase passa tão rápido, né? É bom mesmo você ficar com elas e são tão novinhas pra entrar na escola. E nessa idade eles sentem falta da mãe, não tem jeito".

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Dia desses, chegou uma menina nova com a babá. Dois anos e meio e poucas vezes no parquinho também. A babá foi logo disparando: "você cuida delas sozinhas, né?", como já soubesse da resposta. Pronto, já sei que virei tema das conversas lá do quadrado de concreto. "Mas você não quis babá porque não confia em ninguém?", disse armada. Eu expliquei que não, que queria ficar com elas, que não valia a pena trabalhar no momento. "Ah, você está certa. Esse momento é tão importante na vida delas. É uma alegria". Enquanto a gente conversava a menina gritava: "Mãe, mãe, mãe, vem aqui". "Mãe, não, meu amor, eu sou titia". E por mais que ela tivesse repetido isso umas cinco vezes, a menina continuava a chamá-la de mãe.

E teve um dia que eu conheci aquela que seria a "babá perfeita". Carinhosa, amorosa, educada, dura sem ser má, uma verdadeira mãe para aquelas duas meninas, de oito e seis anos. Quando começou a conversar comigo no parquinho contou a vida dela toda, ela tem um filho, perdeu outro por conta de um erro médico, e amava tomar conta daquelas meninas. "Mas, sabe? Elas sentem muita falta da mãe. Tem dias que eu saio nove horas da noite de lá e a mãe ainda não chegou. E esses primeiro anos são tão importantes. Eu consegui ficar com os meus o quanto eu pude e foi maravilhoso".

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E por essas conversas, eu sempre volto pra casa, pensando e pensando...

Eu gosto de ir no parquinho porque todo dia é uma novidade, uma história nova, um desabafo ou uma descoberta tanto minha, como das meninas. E assim vamos indo na nossa vida moderna, cada um com suas escolhas, cada um, não importa quem, tentando ser feliz também.

7 comentários:

  1. Legal esses parquinhos aqui onde eu moro nunca vi um desses... aliás aqui não tem muita coisa mesmo, shopping fica a quilômetros, eu vou pra rua de carrinho, mas não tem aonde a gente parar um pouco, ainda bem que moro em casa com um quintal bem grande... eu queria montar um parquinho no meu quintal com balanço, escorrega, gangorra... quem sabe né.

    Quando a gente sai também acaba se distraindo né, conversando com um com outro, é muito bom.

    Beijos na dupla.

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  2. Me dói o coração saber que aos seis meses terei que colocar meu bebê em uma creche. Que saco.

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  3. Parabéns pelo blog! Inspirador! Depois que tive a segundinha(1a3m), não consegui parar de trabalhar, porém saio 3 horas antes do fim do expediente para passar meu tempo com ela e o mais velho (12a). Bjos pro trio!

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  4. Não adianta termos quem fique com nossos filhos, esse trabalho é da mãe, é naturalmente dela, quando precisamos modificar isto esse trabalho vem dobrado depois..mas infelismente hoje a realidade faz muitas maes terem que optar por isso e passar esse dobrado mais tarde!

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  5. Tati, aqui na asa norte não é diferente. Vejo muitas crianças com babás, mas algumas não interagem com os pequenos. Elas deixam os filhos, muitas vezes doentes, em creches ou com parentes - essas são as sortudas - para trabalhar. Conheci o filhinho de uma delas: bem pequenino e magrinho, quase não come nada, ela me disse. O pequeno dava de dez a zero nos maiores, brincava sem medo de cair. Como deve ser difícil essa situação, cuidar do filho de outras mulheres e não cuidar do próprio. Eu, por enquanto, posso ficar com meus meninos, mas tenho consciência da minha sorte. Eu pude fazer essa escolha. Abri não de muitas coisas - viajo menos, compro menos e, às vezes, sofro por não dar o brinquedo legal que eles gostariam, mas sei que o tempo não volta e quero aproveitar a infância deles bem de pertinho.
    Beijo pra ti e pras meninas.

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  6. Dureza, né? erguei as mãos e dai glória a deus quem pode ficar com o próprio filho ou quem encontra uma babá carinhosa e competente ou uma creche decente e acessível para deixar os filhos.
    Porque todas essas opções estão dificeis..

    Beijos

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  7. VocÇes estão me dando partes importantes de como lidar com meus infantes que estão por chegar... Há 7 anos vivo fora do Brasil, vivo em Lima, e faço releituras de minha infância e conheço novas... Obrigado

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