Eu me preparei, estudei, li todos os livros do Michel Odent, sabia as posições ativas, contratei equipe humanizada e, no fim, terminei em uma cesariana. De novo. Foi dolorido. Na minha cabeça não existia outra opção, não existia plano B ou hospital, eu ia parir em casa. A gente se entrega tanto ao assunto do parto humanizado, vira ativista, acha que é especialista, que parece que não há outra forma de nascer, sinceramente. Ah, se o bebê nascer de cesárea ou não mamar nas próximas duas horas de vida... alerta vermelho, algo de errado vai acontecer. Era como eu me sentia. E não é bem assim. É como a minha parteira dizia no meu pré-natal, e eu apesar de ter escutado tudo aquilo com atenção devo não ter entendido direito na época, o foco precisa estar no bebê. Não é o jeito de nascer, é quem nasce. O parto é apenas a porta de entrada para aí sim gerar e nutrir uma vida.
O Francisco nasceu de uma cesariana não desejada. Minha lembrança dos segundos antes dele nascer era meu braço e minha face toda tremendo muito, provavelmente efeito da anestesia combinada com a minha adrenalina de dois dias de trabalho de parto, minha vontade era levantar e sair correndo daquela sala de cirurgia. Até que veio um sopro de vento: "É um menino". E o tempo parou. A gente se viu, choramos todos, depois ele foi pra outra sala e o Marco junto. Fiquei ali amparada pela minha parteira atrás daquele lençol azul e continuava tremendo e com vontade de sair correndo atrás do meu bebê. Tiraram a placenta, o tempo foi passando. Fomos pra sala de recuperação, ligamos pra família 4h da manhã pra contar e "cadê o Francisco?". "Ele está ofegante e vão deixar um pouquinho em observação, mas tá tudo bem, apgar alto", lembro do Marco me contando.A história parecia se repetir de novo, passei o mesmo com as meninas, mas dessa vez eu não esperava nada daquilo.
Me levaram pro quarto, devo ter dormido uma hora só e acordei com um só pensamento: "cadê meu bebê?". Chamei o Marco e pedi que ele fosse ver. Levaram ele pra UTI pra fazer exame de infecção já que eu tinha ficado com bolsa rota muito tempo. Lá estava todo procedimento hospitalar que eu tinha tentando evitar com um parto em casa de baixo risco. Tomei banho com certa facilidade (lembro que na cesárea das meninas foi horrível) e fui logo na UTI pegar o Francisco e dar de mamar. Vi ele com a sonda e me deu uma dor do peito, era como se eu estivesse vivendo tudo de novo. Ele era o maior bebê que estava lá, sequer ficou na incubadora. Quando ele pode ir pro quarto? Só depois do resultado do exame. Tentei argumentar, mas era norma do hospital, "não fazia sentido" deixar um bebê subir pro quarto e talvez ter que descer pra UTI de novo. Sofri nessas horas, mas quando pegava ele no colo, meu coração se enchia de novo. Voltei de tarde e ele mamou um pouco, tiraram a sonda. Eu e o Marco resolvemos que ele iria dormir em casa com as meninas, e meu irmão foi ficar comigo. Voltamos de noite, ele mamou mais um pouquinho. A enfermeira disse que iam dar o complemento de qualquer jeito. Na saída, o pediatra me para e diz que ele vai pro quarto. Tudo ok nos exames! Viva!
Quando o Francisco chegou no quarto foi a glória. A enfermeira, olha que lindo, leitora aqui do blog (obrigada, Alice!), me ajudou a colocar a roupa e me disse que tinham mais dois complementos marcados. Recusei. Se ele tomasse mais complemento não iria pegar no peito nunca, simples assim. E foi a melhor coisa que eu fiz. Naquela hora, tentei colocar ele no peito, mas nada. Imaginei que ele tivesse tomado o complemento e ele chegou a dar um golfada. Então, deixei ele ali no meu colo. Como era bom! O bercinho móvel ficou de lado. E ele dormiu encostado no meu peito quase a noite toda. Não havia mais preocupações, meu filho estava ali. A partir desse momento bateu uma onda de amor forte, oxitocina pura. Algo que eu não havia experimentado com as meninas, confesso, com elas não sei se era o medo do desconhecido, estava apavorada, e acho que por isso essa conexão demorou mais. Com o Chico foi imediato.

Fui tomada de uma paz enorme. Uma certeza gigantesca daquele amor. Não havia mais nada de errado no mundo. Como era possível? Nada tinha saído como planejado, como estava nos livros, e ali estavam os tais hormônios do amor. O leite fluiu, veio cansaço, é claro, mas ele não era penoso. Senti um pouco por não saber o que era essa sensação da primeira vez. Ali já havia chegado a entrega, que as meninas tinham me ensinado. Com o Francisco e depois de meses pensando o que poderia ter sido diferente, entendi que não era o parto, mas o nascimento que importava.
Não é o meio, mas a escolha que uma mãe ou a futura mãe faz pelo seu bebê é que desperta os hormônios do amor. É como você quer começar a jornada. E acredito no caminho do parto lutado, das dores sentidas, do bebê e do seu corpo em conexão e não apenas em uma data marcada e na cirurgia "sem riscos".
É para o nascimento que a jornada deve valer a pena. Ali estava meu bebê, tão sonhado, planejado, amado. E o meu renascimento como mãe e como mulher com a chegada do Francisco.
Que venha 2015 cheio de histórias e novas marcas. Que venha mais um lindo capítulo para ser escrito e vivido. Obrigada, 2014.