segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Birras e a roda de olhares fulminantes: precisamos parar com isso

Para você, pessoa querida, que estava ontem na Livraria Cultura , no fim de uma tarde de domingo e que escutou uma criança de quatro anos chorar porque queria um livro de bailarina e a mãe disse não:

Eu sei que ela estava gritando que "não era justo, que ela estava muito, muito triste e que não queria ir embora" e você se sentiu incomodado com aquilo, mas, veja bem, eu estava tentando lidar com a situação da melhor maneira possível. Tentei conversar com ela, dizer que não dava, que a gente tava ali para comprar o livro da amiga que fazia aniversário e não pra ela, que ela tinha acabado de fazer aniversário e ganhado muitos livros, mas o efeito parecia ser ainda pior, eu sei. Eu sei que depois o irmão dela de quase dois anos chorou no mesmo ritmo porque não queria ir embora e ali estavam dois pais tentando resolver uma situação, digo de novo "da melhor maneira possível". Acredite, eu também não estava feliz com aquilo. E, olha, também já fui você, também já olhei torto para uma criança fazendo birra e se debatendo no chão, mesmo depois de ser mãe. Mas vou te dizer que não ajuda em nada. Os olhares só pioram a situação. Sim, quando eu peguei ela no colo para tentar consolá-la (e isso funcionou com o meu de dois anos, por exemplo) e ela começou a gritar: "me solta", também não foi legal pra mim. E quando, finalmente, eu consegui sair da loja com ela e perceber, pela primeira vez, uma livraria inteira olhando pra mim, não foi legal. Te conto que um minuto depois já estava tudo bem. Porque crianças são assim, em dois segundos, esquecem e já partem para uma brincadeira nova, mudam de foco. Que maravilha, né? Estou tentando aprender com eles. Esqueci os olhares, mas percebi que preciso deixar os meus de lado também. Crianças choram. E, sim, eu também quero chorar em várias oportunidades, especialmente quando não consigo o que quero, mas, como pais, precisamos ensiná-los a lidar com suas frustrações. E seria, bom, bem bom, se não tivéssemos ainda por cima o peso do constante julgamento alheio através do olhar. Seria bom.




Depois disso, ainda fomos em outra loja e compramos uma triliche,
E mais olhares tortos para as crianças brincando na cama. Tão confortáveis que foram até debaixo das cobertas. Mas dessa vez, não liguei pra nada. Deixei eles serem crianças. Fim.



5 comentários:

  1. Adorei. Também lanço olhares...também sou olhada, e quer saber? Um dia será a vez deles, de serem olhados... Aí vão se lembrar que também julgam!!! Cada dia a moeda cai de um lado!!!

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  2. Dia desses li os comentários de uma matéria sobre uma criança de DOIS anos que se recusava a colocar o cinto no avião e meus olhos saltaram das órbitas com os "isso é falta de porrada!", "na minha época a minha mãe olhava pra mim, me sentava a mão e tudo estava resolvido". 90% dos posts eram a favor da violência. Que mundo é esse?!

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  3. Adorei! É uma situação que pode (e vai) acontecer com qualquer pai ou mãe. Um pouco de compaixão e solidariedade seriam suficientes nesses momentos para q a gente consiga lidar com a situação da melhor forma possível, como vc disse. Quem sabe um dia... Tenho um triliche desses aqui em casa, é ótimo. E olha que os meus pequenos testam todos os seus limites! Hahaha! Beijo!

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  4. Existe uma diferença muito grande (colossal, eu diria) entre ser violento (inaceitável) e impor respeito (imprescindível). Definitivamente, você não precisa ser agressivo para uma criança te respeitar. O problema é que a imposição de limites deve ser realizada todos os dias, a todo o momento, em todos os lugares (inclusive em shoppings). Toda vez que eu vejo uma mãe impondo limites em uma criança, eu lanço um olhar "isso aí, é foda linda, mas vc vai conseguir e é para o bem dele, não o seu". Linda, você faz certo. E te garanto que entre olhares de árvores secas (que não dão frutos mas gostam de criticar) tem olhares solidários e que estão te mandando vibrações para que você se mantenha firme e crie seres humanos, não esses merdinhas xiliquentos que tem por ai. Força, linda!

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  5. Relaxa, o mundo é redondo. Esse mesmo povo que olha torto em breve terá octuplosgêmeos (ou octuplosnetos) daqueles bem difíceis de lidar. A gente sempre paga a língua, sempre. Eu nem ligo mais pra olhares, apenas concentro no desejo de óctuplos.

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