Estou há dias com este post na cabeça e agora está na hora de escrever. E não consigo pensar em outra coisa a não ser: o caminho do meio. No fim da escola e começo da faculdade, eu era a menina que adorava ler sobre a revolução cubana, mas morria de vontade de ir pros EUA e morar lá. Então, adorava todas aquelas ideais de esquerda, mas consumismo era aquela coisa linda. Nunca me senti parte de nenhum grupo. Na minha infância vivi em muitas cidades pelo interior do Brasil e tinha aquela coisa e morar em vila, brincar com os vizinhos, subir em árvores, etc. Fui no cinema pela primeira vez com 10 anos ver Lua de Cristal (aquele mesmo com a Xuxa), não porque meus pais não queriam que eu fosse antes, mas porque foi quando finalmente abriu um cinema na cidade. Mas assistia muita televisão e filme em casa. Se comer jabuticaba no pé era uma delícia, uma das minhas memórias de infância era passar no Bob's uma vez por ano nas nossas viagens de férias na serra que ligava o Rio até Resende, cidade onde minha avó morava e onde eu nasci. Mas, onde vamos com isso? Bem, até aqui. Com as meninas crescendo eu fico pensando até onde vai o consumismo nesse mundo moderno em que vivemos. Que caminho do meio é esse que elas podem seguir em um mundo onde acessibilidade é mais fácil que jogar bola na esquina, onde galinhas pintadinhas azuis estão por toda parte e onde os pais que cresceram com uma vontade enorme de ir pra Disney com 15 anos (o que inclui euzinha aqui, que nunca fui, aliás) agora tem dinheiro para realizar esse sonho quantas vezes quiserem em uma vida toda.

Bella e Maria
As meninas estão quase com dois anos e eu sinto que elas se interessam cada vez mais por coisas. Sim, coisas. Objetos, pessoas, coisas que antes na vida de bebê delas passava batido, mas agora chama a atenção. Entre elas, a televisão. Eu já falei
aqui que não acho legal ou necessário que um bebê assista TV, DVD ou vídeo na internet e é um assunto que sempre dá polêmica (aqui ou no instagram @familiamoderna), mas eu sempre pensei que o tempo gasto vendo desenho era um tempo perdido, em que elas podiam estar brincando e desenvolvendo a coordenação motora, a comunicação, em especial. etc, etc. Por isso, aqui nunca rolou, mas não, não criei minhas filhas numa bolha, blá, blá, blá. Eu assistia TV na frente delas, elas adoravam a música de abertura de Big Bang Theory, por exemplo, paravam pra ver e depois já voltavam a brincar. Mas, há uns meses, comecei a deixar as duas verem alguns videos na internet. Primeiro de músicas que a gente gostava, depois de músicas voltadas pra crianças. E há uns dois meses, comecei a mostrar alguns desenhos na TV e elas ficaram, de fato, interessadas. Nesse tempo todo, eu usei meu filtro de mãe, nada de desenhos bilíngues, coisas complexas, etc. E, ainda sim, assistimos pouquíssima TV, e eu sempre junto das duas.
Aí outro dia estava na casa da minha mãe e ela colocou na tal da Casa do Mickey Mouse, como elas têm uma Minnie e um brinquedo de encaixe com os personagens, reconheceram na hora. E quando acabou ficaram pedindo mais! Apontando pro controle e etc. O quê? Olha, eu quebrando a cara aí. Sim, acho bonitinho que elas tenha identificado o Mickey e mostrado interesse em alguma coisa, mas até que ponto a gente deve incentivar isso? Vamos comprar tudo do Mickey, fazer a festa de aniversário do tema, comprar roupa, pijama, biquíni, maçã do Mickey mostrar o desenho de novo, de novo e de novo? Todas as coisas que são quase instintivas para os pais nos dias de hoje. E não vejo problema nenhum elas se identificarem com uma animação, personagem, Mas meu instinto diz outra coisa: bora encontrar o equilíbrio no meio dessa coisa toda? Nem totalmente sem, nem tanto? Caminho do meio, minha gente. Elas sabem que é a Branca de Neve e a Cinderella, ganharam bonecas, tem os livros, mas não é só isso que elas brincam e nem existe uma obsessão por trás. Acho que também isso depende muito dos pais e dos gostos dos pais, por isso voltamos de novo: caminho do meio.

Sim, a gente sai na rua de pijama, aliás
E como a maternidade é cheia de contradições, entra o Darth Vader nessa história. Meu marido é fã de Star Wars. Então, achei um livrinho infantil, em inglês porque não tem edição em português, que brinca com a coisa do Darth Vader ser o pai do Luke e da Leia. É esse aqui.

Comprei no Ebay :)
As meninas amaram o livro (acho que muito por influência nossa) e eu lia pra elas com a minha interpretação, não como estava no livro. Depois ganharam outro livro do Star Wars e sempre apontavam pro "Dati Veider". Aí a gente foi no mercado e tinha um boneco do homem vestido de preto que a gente colocou no carrinho para dar de presente de Natal pro nosso sobrinho, mas foi aquela coisa "Dati Veider, Dati Veider, Dati Veider" e a gente acabou comprando pra elas mesmo. E ele faz sucesso desde então. Veja bem. Darth Vader é um vilão na história (calma, é isso mesmo que você lembrava), mas pra elas não, e é a gente incentiva que elas brinquem com ele. Não deixa de ser um personagem comercial, não deixa de ser um consumismo. Pensamos em fazer a festa delas de Star Wars, inclusive. Mas existe uma diferença aí: controle. Primeiro, Darth Vader não está por todas as partes, não tem desenho, aparece de vez em quando em uma festa ou brinquedo de um primo/tio mais velho. E é um personagem criado por nós. O Darth Vader pai da Leia e do Luke.
O fato é que sempre temos que procurar um caminho do meio. Não ficar alheio ao que acontece ao nosso redor, o que faz parte da nossa cultura e coisas que talvez a gente não goste, mas nossos filhos vão ter contato eventualmente. E qual direção você quer guiá-lo, porque sim, essa é nossa responsabilidade. Ensinar, incentivar a escolha é nossa responsabilidade e não da escola, do amigo, do desenho, da história. Ainda acho cedo, por exemplo, pras meninas verem filmes da Disney, por exemplo, ainda que eu tenha meus favoritos (Mulan, é o meu favorito de todos os tempos, aliás). Primeiro porque elas não vão entender, segundo porque acho muito complexo. Não estou falando que minhas ideias são certas e quem gosta da Galinha Pintadinha, por exemplo, é errado. Só acho que é preciso equilíbrio, compartilhando o que está dando certo pra gente e ainda sim tentando aprender. Acho que tudo tem seu tempo e como eu me agarro a ele, como eu quero que minhas meninas sejam apenas meninas, que gostem de ler seus livros, brincar na rua, descobrir parquinhos e falar pelos cotovelos. E, sim, que vivam num mundo de fantasia também, afinal sonhar faz parte da vida.