quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A colecionadora de filhos

Primeira segunda-feira pós férias e eu resolvo sair para encontrar uma amiga no shopping. Coloco os três no carro, eles dormem. Chego no shopping, dois de três acordam, coloca uma no carrinho, bebê no sling, irmã mais velha caminhando no chão. Passeamos, encontro outra amiga, elas brincam e correm, tomamos um picolé. Fim. Hora de ir embora, desço para o estacionamento coberto sozinha com os três. Francisco no sling e eu empurrando o carrinho dele vazio. Cada uma sai correndo para um lado. Bella vê a vitrine de um salão de beleza e fica louca com a quantidade de esmaltes coloridos. Maria vê a decoração de Natal de uma academia com um Papai Noel gigante e entra lá como se fosse a nossa casa. Eu olho aquela cena e penso: "ferrou-se". Vou atrás da Bella que já entrou no salão e está com a mão nos vidros de esmalte e digo: "Que lindo, né? Mas a gente tem que ir embora, vamos lá pro carro". Maria chega correndo. "Mamãe, achei o Papai Noel". Enquanto isso,a Bella volta para os esmaltes. E Maria corre pra academia de novo. Fizemos esse processo umas três vezes. Então, respirei fundo e coloquei o Francisco no carrinho e deixei ele no corredor com uma moça que olhava de longe e fazia caretas pra ele. Fui atrás da Bella e coloquei ela no sling a contragosto da própria. Fui atrás da Maria, olhei o Papai Noel e consegui convencer ela a ir embora. Ufa. Mas espera que ainda tem mais.

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Fui na máquina de pagar estacionamento e estava quebrada. Atravessei o estacionamento todo com os três para ir no caixa. Assim que a gente chegou lá, eu só escuto: "mamãe, quero fazer xixi!". Nãoooooooo. Estávamos do lado do banheiro. A moça do caixa do estacionamento olha meu desânimo e diz: "você quer que eu fique com o bebê pra você?". Pensei por uns segundos e aceitei. Peguei as duas e fui correndo no banheiro pensando "acabei de deixar meu filho com uma estranha. Acabei de deixar meu filho com uma estranha!". Enquanto eu colocava a Maria pra fazer xixi fiquei pensando em como eu não dava conta de três, como pode? Bateu um fracasso total. Saímos do banheiro e eu: "vamos correr, meninas, corre que mamãe deixou o Francisco com uma moça que ela não conhece!". Cheguei e lá estava o Francisco no colo da simpática atendente assistindo Galinha Pintadinha. Como não? Ri da minha própria desgraça. É claro que ela tinha colocado Galinha Pintadinha pra ele (pra quem não sabe eu odeio esse desenho). As meninas entraram na cabine do caixa e começaram assistir também, enquanto eu passava o cartão. Chegou uma senhora perua nesse momento e começou a falar com jeito de "nojinho": "Gente, o que é isso?". "É uma creche que ela tá fazendo", tentei responder de forma simpática. "E é tudo seu? Como assim? Você gosta de colecionar coisas, por acaso?". Não consegui nem responder nada pra ela, só um, "é, deve ser" e saí carregando todo mundo pro carro.

Na volta pra casa fiquei me sentindo um fracasso total, a louca colecionadora de filhos. Que caos tinha sido esse? Que ideia era essa de ter muitos filhos mesmo? Estava perto da casa dos meus pais, pois eles tinham viajado e ficamos uns dias por lá, e eles moram num condomínio, eram quase 18h, mas parei e perguntei pras meninas: "vamos pro parquinho? A gente brinca um pouco, enquanto espera o papai chegar em casa, que tal?". Ouvi um sonoro e delicioso: "simmmmm!". Sentada no banco com o Francisco vendo as duas brincarem com outras crianças fiquei pensando em como eu tinha escolhido aquele caos sim. Em como, quanto mais as meninas crescem e a família também, como não, eu vejo que cada mulher tem seu caminho especial na maternidade, cada um de nós faz as escolhas que quer. Seja ter um filho só, dois, três ou não ter filhos. A salvação é pessoal, como diz a minha mãe. O caos faz parte do meu caminho, muitas vezes eu dou conta, outras não dou, e eu aprendo um monte com ele. E eu é que escolhi isso. Não, não escolhi ter gêmeas, nunca pensei que ia ter três filhos, mas no meio do caminho mudei de percurso. E agora aprendo a me virar, aprendo que tudo é possível e que também existem coisas impossíveis. Eu escolhi esse caos louco.

Eu amo a casa cheia, os três brincando e me ensinando juntos. E eu queria ter mais filhos sim, por que não? Porque sim. Mas isso não quer dizer que vamos tê-los, afinal ainda estamos descobrindo o caminho. Todos temos que passar por processos com um filho, ou às vezes dois de uma vez só, para aprender e seguir em frente. Temos todo o direito de reclamar do cansaço, da falta que as noites de sono faz, de sermos livres pra ir e vir, das mudanças que acontecem quando eles chegam. Mas também precisamos aprender a aproveitar. Parar e ir no parquinho fora do horário. Viver ainda mais intensamente todo esse caos, sem deixar de colecionar.

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14 comentários:

  1. Que comentário infeliz dessa senhora. Antigamente se tinha tantos filhos e era tão normal. Hoje as pessoas olham com estranheza se a pessoa tem dois, três, quatro filhos. E daí se é coleção? Coleção do que é bom faz bem, ainda que o processo seja difícil, é compensador demais. Ter filhos é bênção. Ponto final.

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  2. Meu Deus!Perfeito.É assim mesmo que me sinto.

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  3. Como assim?!
    "E é tudo seu? Como assim? Você gosta de colecionar coisas, por acaso?"

    o.O

    Para o mundo que quero descer com meu marido e meu filho, porque esse aqui está contaminado com esse tipo de 'criatura'. Vamos nessa Tati?! Aff, mil vezes!!!

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  4. Você é um exemplo pra mim, Tati! E você tem a coleção mais linda do mundo! Parabéns!

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  5. Amei o texto, tenho um pequeno só e já um caos total, mas é um caos bom. É um caos qual deixamos acontecer, e amamos por mais bagunça entre tudo isso. adorei.

    Beijão, www.desapegaadrii.blogspot.com

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  6. Entre o caos e a calmaria vamos criando os pimpolhos e sendo felizes! Adorei o post! Pura maternidade real!

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  7. Que lindo. Eu tb quero ser uma colecionadora de filhos, assim como minha mãe que me deu duas irmãs e hoje eu sei que foi a melhor coisa que ela poderia ter me dado. E quero presentear a minha filha também ; )

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  8. Enquanto lia seu texto só pensava em como é facil julgar. Julgar aquela mãe que deixa os filhos com estranhos, que esquece os filhos dentro do carro, que deixa os filhos ver a tal da galinha pintadinha, etc. É preciso parar e ver fora da caixinha. Td está muito além do qua aquilo que conseguimos ver de fora...bjo e muito linda essa sua coleção

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  9. Ridículo. Quem as pessoas pensam que são pra determinar quantos filhos devo ter?? Como se fosse uma regra ter dois filhos no máximo. Fico p#!+ da cara com isso.

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  10. Vc nunca será um fracasso, Tati, vc JÁ É uma super mãe maravilhosa, que só quer dar amor e amor e amor pra essas três crianças lindas. E essa senhora q perguntou se vc gostava de colecionar coisas, por favor, sejamos solidários, ela não entende nada de amor.

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  11. Li várias vezes, como assim, que pergunta absurda!!! E outra vc é tão mãezona.... fica em paz!!! Bjs

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  12. Fica em paz, vc é super mãezona!!! Um exemplo para mtas.... e infeliz essa senhora...

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