
Depois que as meninas nasceram, meus ideais foram embora rapidamente. Sim, eu precisava de muita ajuda, e pra mim foi muito difícil admitir isso. Eu lutei contra a minha falta de controle da situação, a minha falta de braços, a minha falta de energia, a minha vontade de fazer tudo do meu jeito, eu precisei me livrar de todo um conceito e sonho de vida para encarar a realidade e foi muito difícil. No início, a minha ideia era contratar uma empregada e contar com a ajuda da família, especialmente da minha mãe, para cuidar das duas. Mas a empregada pediu demissão antes mesmo de começar e a substituta só durou duas semanas. Depois de dois meses, a minha mãe começou a ficar cansada e eu percebi que era hora de contratar uma babá. Nas noites e nos fins de semana, eu e o Marco estávamos no comando, e no começo foi bem difícil, (de vez em quando, rolava uma ligação desesperada nos domingos pros meus pais do tipo "vocês conseguem vir aqui e ficar um pouquinho com elas pra gente comer alguma coisa?), mas sobrevivemos.
A experiência com a primeira babá não foi muito boa. De novo, ainda estava no processo de admitir que precisava de ajuda para cuidar das minhas filhas. Ainda era muito difícil. Eu não deixava a babá fazer nada. Eu era tão louca que não deixava ela dar banho nas meninas. Ela ficava com uma enquanto eu dava banho na outra, depois eu repetia o processo enquanto ela olhava quem já tinha tomado banho. Isso tudo para no final, eu sentar no sofá e amamentar uma de cada vez. Louca, louca, louca, como diria Shakira. O trabalho dela era mais colocar uma das meninas para dormir. Depois de dois meses, ela pediu pra sair e contratei uma nova babá. Com ela, deu tudo muito certo. Até que as meninas foram crescendo e eu acho que aquela vontade de cuidar mais das meninas foi chegando de novo. Eu vi que sim, eu conseguia sair com as duas sozinha, eu tinha braços para carregar duas bebês quando se fazia necessário. Eu propus que ela cuidasse mais da casa e eu ficasse mais com as duas, e aí, coincidentemente, as coisas não fluíram mais.
Bem, então, o negócio agora é o seguinte: não temos mais babá. E a partir de amanhã vai ser assim, só eu e elas. Louca, louca, louca. Quando me tornei mãe, tinha dois caminhos a seguir. Número um: trabalhar e deixar as meninas na creche ou com duas babás em casa, como acontece com várias mães modernas que se dividem em muitas para dar conta do recado. Pensei muito sobre essa possibilidade e ela sempre parecia muito distante. Com duas bebês, financeiramente, eu estaria trabalhando para outras pessoas ficarem com as minhas filhas e receber um trocado no fim do mês.
Número dois: ficar em casa e acompanhar de perto o crescimento das minhas filhas, abrir mão do meu lado profissional, meus desejos, para cuidar das duas. Também escutei muita coisa (e ainda escuto) quando tomei essa decisão "você não vai dar conta, não vai aguentar ficar em casa". E realmente não é fácil. Mas como filha de uma mãe que escolheu a segunda opção como modo de vida, me pareceu, e ainda parece, natural. Portanto, está na hora de colocar esse caminho em prática, como eu imaginava e no melhor dos graus de ilusão. Além disso, como eu resolvi parar de trabalhar, o orçamento familiar também está apertado e ter uma babá ficou muito custoso e sacrificante, tinha que valer muito a pena. Está aí mais uma razão para assumir minha decisão.
Eu sei que vai ser muito difícil. Sei que em alguns momentos vou ficar frustada, cansada e querer arrancar os cabelos. Mas estou aqui para tentar, fiz minha escolha. Se eu não tinha tempo para fazer nada antes, agora eu nem sei como vai ser. Colocar duas bebês no colo e sair por aí parece ser missão impossível, e muitas vezes é, não é a mesma coisa do que ter um bebê só, um carrinho pequeno e etc. Mas, eu consigo e consegui apagar aquelas temidas sentenças que recebi no começo. Cada mês que passava, era mais fácil e mais divertido cuidar das duas. E acho que eu vou dar conta. É claro que não sou tão louca e vou ter uma faxineira aqui em casa para me ajudar nas tarefas domésticas, ufa!

Passei a semana passada inteira com um frio na barriga, aflita, até que finalmente fiz as pazes com a minha vontade de ser a cuidadora das minhas filhas, de ir contra a maré, de tentar o que parecia o impossível. Somente nós três. Agora vamos ter que nos readaptar um pouco, vou aprender a dar comida para as duas ao mesmo tempo, descobrir como dar a mamadeira para as duas ao mesmo tempo, como fazer tudo ao mesmo tempo. Toda uma nova rotina. Estou com medinho, é claro, mas feliz com a chance de começar tudo novo de novo e viver novas aventuras como mãe. Ser mãe é uma loucura e eu estou aproveitando para me descobrir, me superar, porque assim é a vida.