Quando as meninas tinham poucos meses de vida, recebi um e-mail de uma grávida de gêmeos que estava na reta final, pronta para receber seus bebês, mas cheia de dúvidas, é claro, e me identifiquei muito com ela. Nasceu aí uma forte amizade virtual que perdura até hoje. A Liliane mora no interior da França com o marido Phil e já era mãe da Cécile quando se descobriu grávida de dois. Não foi tanta surpresa já que a mãe dela era gêmea e ela tinha irmãos gêmeos, mas foi, de fato, uma aventura. A começar pelo parto. Ela topou compartilhar a história dela aqui para quem sabe inspirar outras mães, é fato que na França a cultura hospitalar é muito diferente do Brasil, mas também é bom ter informações sempre. E ela teve um parto pélvico, um relato raro de ser ler por aí.
Eu sinto que conheço essa família tanto, adoro ver as fotos deles todos os dias e conversar com a Lili, que às vezes acho que ela é minha vizinha, mesmo que milhões de quilômetros nos separem. Está aí a maravilha da internet e do mundo moderno. Por isso, fico muito feliz de mostrar o nascimento da Alice e do Arthur, história que eu li em um e-mail há quase um ano atrás e me emocionei muito. Aí vai:
Estava com 32 semanas de gestação e no dia anterior ao parto
estava começando a me sentir estranha, com cólicas, vomitando e muita
falta de ar. A enfermeira que vinha toda semana me ver em casa (por
causa da hospitalização a domicilio) veio nesse dia pela manhã e me
aplicou a primeira injeção pra maturação dos pulmões dos bebes. Por
volta das 23 horas comecei a sentir contrações, indolores mas a barriga
ficava muito dura. A sensação era estranha demais, nada comparado com o
que senti no dia do parto da Cécile. Tomei buscopan, tomei um banho pra
ver se passava e nada. Pensei que pudesse ser o efeito da injeção, por isso fiquei com medo, pois a cada contração
forte meu colo corria o risco de encurtar cada vez mais.
Às três da manhã, como eu não conseguia dormir já que a barriga não parava de
endurecer, Phil ligou pro hospital que mandou uma ambulância me buscar
(por causa do repouso absoluto eles não aconselhavam o deslocamento de
carro. Phil ficou em casa com Cécile. Me senti super sozinha, mas era necessarío e eu não queria acordar ela no meio da noite assim pra
ficar no hospital sem saber o que iria acontecer).
Chegando lá fizeram uma ultra pra medir meu colo que já estava mais curto, menos de
1 cm,
mas continuava fechado. Algumas horas depois voltaram para me examinar e
voilà, colo aberto e com 3 cm de dilatação! Tomei um
medicamento para parar as contrações na veia, mas não adiantou. Quando me
disseram eu fiquei super nervosa, chorosa, uma mistura de alívio com
medo, não sei descrever o que senti naquela hora, uma mistura louca...
provavelmente culpa dos hormônios! Liguei pro Phil que
imediatamente ligou pra mãe dele pra ir ficar com Cécile em casa,
enquanto ele ia pro hospital.
Então, começou aquele corre-corre entre as enfermeiras, colocaram um
monte de medicação no soro sobretudo a segunda dose pra maturação dos
pulmões. Um dos remédios até não me fez muito bem, tiraram na mesma hora, mas nada
grave. Me aplicaram também a peridural, em caso de gêmeos eles nem
perguntam se a pessoa quer ou não anestesia, depois disso fiquei
flutuando nas nuvens! Detalhe que eu não senti dor em nenhum momento
antes da aplicação, senti muito mais a picada da agulha que qualquer
outra coisa.
Dessa vez Phil não pode assistir ao parto, pois foi feito no bloco (centro cirúrgico), caso
fosse preciso tirar o segundo com uma cesariana. Me senti tão
sozinhaaaaa, no primeiro parto ele ficou comigo e foi super importante,
fez toda a diferença.
Finalmente, me levaram para o bloco, já tinha passado do meio dia. Alice
nasceu com minha ajuda, mesmo com anestesia, eu tive toda a sensação do
parto tirando a dor, claro. E isso foi super importante pra mim, já que
no meu primeiro parto foi preciso ventosa para ajudar a Cécile sair, porque eu não
forçava direito, fiquei com um medo terrível de que a força tomasse
outras proporções (detalhe que Cécile era bem gigante, 3.6 kg, também então
não me culpo tanto rsrs).
Durante o trabalho de parto, as enfermeiras me diziam "Força mesmo, igual pra fazer cocô, nós estamos acostumadas com os
acidentes!" Assim que ela nasceu, com os olhos bem abertos,
querendo ver tudo, me mostraram bem rapidinho e já correram com ela
pros primeiros cuidados. Era a vez do Arthur, mas assim que ela saiu ele virou e
sentou. Ele estava numa posição meio termo, tipo atravessado, só que bem mais inclinado pra posição cefálica. Mas na hora, as enfermeiras disseram que ele poderia ficar pélvico e foi o que aconteceu.
Quando isso aconteceu, a médica e as enfermeiras me diziam pra não fazer mais força, e
quando olhei só via o corpinho dele pra fora e sentia que a cabeça
dele estava dentro. A médica puxava muito, com muita força, é
realmente impressionante, mesmo chocante, achei que fosse morrer ali
junto com ele, sem exagero, rezei muito. Olhava apavorada pra médica,
pergutando se eu podia forçar para ele sair e ela só dizia pra não fazer
nada, que ela iria tirá-lo. Finalmente, ele saiu, chorou e eu cheguei a
suspirar de alívio! Pra ele sair foi preciso uma episiotomia (mais uma
vez, ja tinham feito quando tive a Cécile). Me trouxeram os dois
rapidamente novamente pra que eu pudesse dar um beijinho. Alice
pesava 1,9 kg e Arthur 2,2 kg.
Aqui o parto normal é muito valorizado, eles podiam ter feito cesárea, no
meu caso, mas aproveitaram que os bebês estavam super bem e eram
grandes o suficiente pra aguentar o trabalho. Dei graças a Deus também,
assim no mesmo dia já estava bem pra vê-los na UTI. Arthur
precisou da máscara para ajudar a respirar, Alice respirava super bem
sozinha. No dia seguinte, ele já estava respirando bem sozinho.

Com os pequenos na UTI
Três dias depois do parto voltei pra casa, sem eles, achei que não fosse
me importar tanto, mas na hora vem aquela sensação de "braços vazios".
Coloquei na cabeça de que era tudo necessarío e logo eles iriam estar em
casa e esse tempinho sem eles seria bom para reconquistar o
meu lugar de mãe da Cécile que havia sido um pouco "apagado" durante a
gravidez pelo repouso.
Depois começou toda aquela loucura das idas diárias ao hospital, aquele
medinho de que algo pudesse acontecer com eles tão frágeis, pequenos e
sozinhos. Todo dia sentia aquele aperto no coração em deixa-los. Eles
ficaram quinze dias sozinhos na UTI e cada dia que passava eles só
progrediam, não tiveram complicaçao nenhuma, perderam peso, mas começaram
logo a recuperar. Tivemos muita sorte de ter conseguido uma vaga nesse
hospital que é referencia em bebes prematuros, isso nos deixava bastante
aliviados, eles eram muito bem cuidados, as enfermeiras todas muito
fofas e carinhosas.

Cécile fazendo carinho no irmão
Depois, foi a
hora de eu ir pra lá me internar junto com eles. Nesse hospital, eles
têm um setor chamado "mãe e filho", onde cada bebê prematuro, que tenha
passado muito tempo no hospital depois do nascimento, possa passar um
tempo com a mãe antes de voltar pra casa. É verdade que a gente perde um
pouco o "fio da meada" quando volta pra casa sem eles. Ali eles aprendem
a mamar sozinhos, tiram a sonda e todo aquele vinculo é formado. Pra
mim foi muito difícil, fiquei duas semanas lá, mas tinha deixado outra filha em casa, o que foi realmente duro para aceitar. Chorei muito, ali foi meu
limite, durante toda a gravidez, as duas semanas que fiquei no hospital de
repouso, o tempo que fiquei presa no quarto no segundo andar em casa,
sempre fui muito durona, durante toda essa barra que passamos.... acho que eu
estava muito cansada com essa história de hospital, estava doida pra voltar
pra nossa vida normal. Graças à Deus, Alice e Arthur mamaram no peito super
bem, tiraram a sonda e só ganhavam peso.
Durante essas duas semanas, eu
passava meus dias com eles sozinha no quarto dando peito, pesando e
anotando o peso deles antes e depois de cada mamada pra ver o quanto
eles mamavam a cada vez. Aturava conselhos totalmente contraditórios das
enfermeiras que mudava constantemente, fiquei surda diante disso e
comecei a fazer do meu jeito.
Finalmente, eles foram pra casa depois de um mês e toda uma nova e linda historia começou pra nossa família